Sangue e memória

Anielle Franco: ‘Onde minha irmã estiver, está orgulhosa. O legado de Marielle é de toda mulher preta favelada’

Durante festival no Rio de Janeiro, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, fez discurso ao lado da família e relatou esperança em resolver a morte de Marielle

Reprodução/YouTube
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"Estar à frente do Ministério da Igualdade Racial é um trabalho corretivo. É o sangue, a memória e o legado de Marielle", disse Anielle Franco

São Paulo – Há cinco anos dois homens assassinaram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. Desde então, grandes perguntas permanecem sem respostas. Quem mandou matá-los e por que? Contudo, os ecos de Marielle seguem presentes na política nacional. Hoje, sua irmã é ministra da Igualdade Racial. Anielle Franco segue como representante das mulheres pretas das favelas de todo o país. E ela tem esperanças de que, agora, o crime será solucionado.

“Hoje, o presidente Lula abriu a reunião ministerial se colocando à disposição para resolver esse crime. Esperamos cinco anos por isso. Estar aqui hoje com vocês é a certeza de que onde minha irmã estiver, ela está orgulhosa”, disse durante o festival Justiça por Marielle Franco e Anderson Gomes. Milhares se reuniram no Rio de Janeiro mais um ano para pedir justiça por Marielle. “Estar à frente do Ministério da Igualdade Racial é um trabalho corretivo. É o sangue, a memória e o legado de Marielle e também é toda construção de mulher preta favelada”, completou a ministra.

A esperança é compartilhada por toda a família. A filha da vereadora, Luyara Santos, falou brevemente com os presentes. Emocionada, teve de parar sua fala para se recompor. Mas não se esquivou de deixar a mensagem. “Sou a continuação de um sonho, vocês são a continuação de um sonho. Minha tia no ministério é a continuação de um sonho. Que consigamos chegar às respostas”, disse.

Um crime covarde

Já o pai de Marielle e Anielle, Antônio Francisco da Silva Neto, reforçou a esperança nos novos tempos. “Diferente dos anos anteriores, hoje temos uma perspectiva de resposta. Conseguimos eleger o presidente Lula. Conseguimos tirar aquele ex-presidente do país. Ele interferia na investigação, na Polícia Federal. Ao contrário do atual e do ministro da Justiça, que assumiu um compromisso com a família e com o povo do Brasil”, disse.

Antônio lembrou da crueldade da situação que se abateu sobre Marielle e sua família. “Um crime covarde, bárbaro. Uma mulher desarmada, dois homens de tocaia. Estou com a perspectiva que não vamos ter o sexto ano.” Anielle completou, ao lembrar da linha do tempo dos fatos. “Dia 14 recebemos uma ligação. Fui a única que chegou para ver minha irmã com a cabeça aberta com cinco tiros. Naquele momento não tinha dimensão do que ela tinha se tornado. Em 2018 me mandaram embora de cinco escolas, diziam que minha imagem era muito forte. Realmente. Enquanto tiver sangue correndo nas minha veias, vão ter que me aturar muito”, disse.

Mãe de Marielle

Marinete da Silva, mãe de Marielle, por sua vez, agradeceu o engajamento de cada um que insiste no legado. “A cada dia 14 é dor, mas é esperança. Para estarmos nas ruas todos os dias de nossas vidas enquanto não soubemos quem mandou matar Marielle e Anderson. É fundamental esse carinho de todos. Falar de Marielle é falar de nós. Precisamos saber quem são os mandantes. O Brasil e o mundo precisam saber quem é o mentor disso. Meia década é muito (…) Lutar por Marielle e Anderson é lutar por nossas vidas.”

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