DENÚNCIA

Acordo entre Vale e governo de Minas não ouviu atingidos de Brumadinho

Atingidos por Barragens prometem protesto, nesta quarta, contra negociação, que classificam como “novo crime”

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Moradores denunciam que apenas o Ministério Público, a Advocacia-Geral do Estado, a Defensoria Pública e a Vale participam do processo de negociação

São Paulo – O governo de Minas Gerais e a Vale vão se reunir, nesta quarta-feira (9), para negociar um acordo da mineradora com o Estado, incluindo o pagamento de uma indenização devido ao rompimento da barragem de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, em janeiro de 2019. Entretanto, os atingidos pelo crime, que deixou mais de 270 mortos, reclamam que foram deixados de fora da negociação.

Movimentos sociais, como o Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB), que classificam o acordo como um “novo crime”, prometem a realização de protestos nesta quarta-feira, em Belo Horizonte. Segundo eles, a negociação beneficia apenas a mineradora e o governo de Minas, de Romeu Zema (Novo).

Thomas Nedson, da Colônia Santa Isabel, fala da situação e ressalta que os atingidos não foram ouvidos .“O sistema de vida da região está prejudicado por causa do crime da Vale. Hoje, quase dois anos depois desse crime, o acordo foi feito apenas para beneficiar o Estado. Não teve nenhuma participação dos atingidos de toda a bacia, que vão continuar prejudicados”, lamentou ao repórter Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual.

O governo estadual pediu R$ 54 bilhões, mas a empresa ofereceu R$ 16,5 bilhões. Segundo informações obtidas pelos representantes dos atingidos pelo rompimento da barragem da Vale, o acordo de conciliação caminha para que a Vale pague apenas R$ 21 bilhões pelo crime de Brumadinho – menos do que a metade prevista inicialmente na ação. Apenas o Ministério Público, a Advocacia-Geral do Estado, a Defensoria Pública e a Vale participam do processo de negociação.

‘Acordo criminoso’

Em 25 de janeiro de 2019 o rompimento de uma barragem da mineradora Vale, na cidade de Brumadinho, no estado de Minas Gerais, deixou mais de 250 mortos e 11 desaparecidos. Um dos maiores crimes ambientais, conforme classificam os atingidos pelo rompimento, impactou e ainda impacta a vida de milhares de pessoas que foram prejudicadas direta ou indiretamente pela tragédia.

Para Joceli Andrioli, da coordenação nacional do MAB, o acordo que se desenha está sendo feito a portas fechadas como se não interessasse aos atingidos pelo desastre. “Agora, a influência econômica da Vale tenta fechar um acordo que não interessa aos atingidos, que não tiveram direito à participação no acordo. É um acordo feito em portas fechadas. Há famílias sem acesso à água potável ainda. É um escândalo”, denuncia.

Thomas Nedson destaca que para que o acordo contemple todos os atingidos na sua plenitude, ele precisa garantir os mais de R$ 52 bilhões propostos na Ação Civil Pública, além de um programa de renda com pagamento integral por cinco anos para os que foram prejudicados com o rompimento da barragem.

“A questão do acordo, para ser bom para todos, precisa garantir os danos morais coletivos, a reparação ambiental e a minimização dos prejuízos dos atingidos. Para que o acordo seja a favor da população, precisamos de um programa de renda, por cinco anos, aos atingidos”, defendeu Nedson.

Ainda de acordo com o representante do MAB, foi proposta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), bem como outras ações que garantam os direitos de todos os atingidos pelo rompimento da barragem da Vale.