São Paulo – Um dos maiores expoentes do movimento negro no Brasil, Abdias Nascimento é o mais novo integrante do Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou ontem, sem vetos, a lei que institui a homenagem ao intelectual, publicada nesta terça-feira (9) no Diário Oficial da União (DOU).

 O Projeto de Lei (PL) 2.526/2022, que inscreve o nome de Abdias no também chamado “Livro de Aço” é de autoria do senador Marcelo Castro (MDB-PI). A proposta, que o senado aprovou em 1º de dezembro, recebeu parecer favorável do senador Paulo Paim (PT-RS). Para Paim, trata-se de “um grande personagem na luta antirracista”.

Biografia de um gigante

Poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, Abdias do Nascimento nasceu em Franca, no interior de São Paulo. Lá, absorveu saberes de afrodescendentes mais velhos, repassados através da oralidade em rodas de conversa. Posteriormente, se integrou à Frente Negra Brasileira, que realizava protestos em locais públicos e trabalhava na perspectiva de integrar o negro brasileiro.

Nesse sentido, Abdias participou ativamente da vida política do país. Com a ajuda de Dom Paulo Evaristo Arns, foi responsável pela criação do Instituto de Pesquisas e Estudos AfroBrasileiros, na PUC de São Paulo, e pela organização do Terceiro Congresso de Cultura Negra das Américas. Do mesmo modo, em 1983, criou a Revista Afrodiáspora, órgão de divulgação das atividades, dos problemas e das aspirações dos afrodescendentes nas Américas. Além disso, criou o Movimento Negro Unificado (MNU).

Luta política

Em 1982, foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, sob a bandeira da luta contra o racismo. Era a primeira vez na história do Brasil que um afrodescendente assumia esse cargo com as bandeiras da luta do movimento negro. Assim, aos poucos e com insistência, Abdias soube fazer valer seus discursos e suas posições.

Ele questionou, por exemplo, a comemoração da data do 13 de Maio e defendeu a oficialização do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Agora Abdias recebe o mesmo título de Herói da Pátria dado ao líder quilombola Zumbi dos Palmares.

Foi o primeiro deputado federal do país a desenvolver projetos de lei de políticas afirmativas. Na década de 1990, chega ao Senado. Como suplente do antropólogo Darcy Ribeiro no Senado, assumiu a cadeira entre 1991 e 1992 e de 1997 a 1999.

Além de poeta, teatrólogo e artista plástico, Abdias destacou-se como cientista social. Foi autor de trabalhos que tratam da temática afro-brasileira, considerados referência nesse campo de estudos. Como artista plástico, realizou diversas exposições em museus, universidades e centros culturais brasileiros.

Ele morreu aos 97 anos, em 2011, no Rio. E teve suas cinzas depositadas na Serra da Barriga, em Alagoas, onde existiu a República dos Palmares.

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