Irreparável

Lula critica ação da PRF que resultou na morte de Genivaldo. ‘Genocídio abominável’

Homem negro foi morto em viatura transformada por policiais em câmara de gás. Movimentos negros protestam nesta quarta (1º) no Masp, contra violência policial e racista

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"Aquilo é comportamento da polícia? Três homens para enfrentar uma pessoa com problema de distúrbios mentais fazer aquela violência? É falta de formação, atuação, de inteligência, de preparação”, afirmou Lula

São Paulo – Em entrevista para a Rádio Bandeirantes, nesta terça-feira (31), o ex-presidente e pré-candidato ao Palácio do Planalto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Umbaúba (SE), que levou à morte de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos. O caso ocorreu no último dia 25, quando três agentes da PRF transformaram uma viatura em câmara de gás após detonar, dentro do porta-malas, uma bomba de gás lacrimogêneo e levar à morte o homem negro. 

Genivaldo, que era diagnosticado com esquizofrenia, estava trancado e algemado no porta-malas do veículo após ser detido por trafegar de moto sem capacete. E morreu, segundo laudo do Instituto Médico Ilegal (IML), por asfixia mecânica e insuficiência respiratória, aguda por ter aspirado o gás. 

“Você viu o que foi feito com rapaz Genivaldo em Sergipe? Aquilo é comportamento da polícia? Três homens para enfrentar uma pessoa com problema de distúrbios mentais fazer aquela violência? É falta de formação, atuação, de inteligência, de preparação”, afirmou Lula. Na semana passada, durante encontro com movimentos populares, o ex-presidente já havia participado de homenagem a Genivaldo. Durante o ato, puxado por Simone Nascimento, da coordenação nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), cartazes foram levantados cobrando justiça ao caso. 

‘Genocídio é abominável’

Lula também foi questionado sobre a operação policial na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, que deixou ao menos 23 mortos e resultou na “maior chacina do ano”, segundo o Instituto Fogo Cruzado. A ação, que completa uma semana nesta terça, entrou para a história também como a segunda mais letal do Rio. Além de ter contado também com a participação da PRF. Para o ex-presidente, a violência policial só acontece pela “ausência do Estado”. 

“Se o Estado chegasse antes, com política social, com emprego, com educação, com saúde, com saneamento, com cultura, com área de lazer, com asfalto e iluminação, certamente a polícia seria mais um ingrediente de política social e não a única solução como se tenta estabelecer. Eu acho abominável esse genocídio que acontece no Brasil”, condenou Lula. 

A opinião do pré-candidato contrasta com a do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição. Ontem (30), o mandatário chegou a afirmar que a PRF teria “abatido um marginal” ao se referir a Genivaldo. Bolsonaro também chegou a parabenizar os agentes envolvidos na segunda chacina policial mais letal por “neutralizar”, segundo ele, “pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto”, escreveu ele, sem quaisquer provas. O comentário foi repudiado por autoridades judiciais, como o advogado Yuri Felix, em entrevista à RBA. Em sua avaliação, ele disse que o presidente dá “cada vez mais mau exemplo para os agentes, os funcionários públicos e toda a cidadania” no momento em que elogia “uma postura que não podemos entender como normal”.

Pelo menos 11 dos 23 mortos não tinham processos criminais, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. 

Ato contra a violência policial

Famílias também alegam inocência de várias vítimas e há denúncias de execução à facadas e casas invadidas pelos policiais durante a operação. Os dois casos – morte de Genivaldo e chacina na Vila Cruzeiro – serão novamente lembrados em manifestação nesta quarta-feira (1º) em ato contra a violência policial. O protesto foi convocado por movimentos negros e populares e tem concentração marcada para as 18h, na área do Masp, na Avenida Paulista, em São Paulo.

“Não podemos nos calar diante da violência racial, todas e todos para rua, por #JustiçaPorGenivaldo, asfixiado pela PRF de Sergipe e porque #ChegaDeChacina, como a última realizada na Vila Cruzeiro – RJ, exigimos que #ParemDeNosMatar”, diz o chamado dos movimentos.

O protesto também denuncia a violência policial no centro da capital paulista, na região conhecida pejorativamente com Cracolândia. No último sábado (28), o videojornalista Caio Castor flagrou três agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) acertando com cassetete uma mulher que passava na região. E, depois, utilizando gás de pimenta diretamente contra o rosto dela. O jornalista chegou a ser intimidado por um grupo de moradores do centro por divulgar as agressões durante a abordagem policial. A manifestação também cobra o fim da repressão à cultura periférica, como a Batalha da Matriz. O evento de disputa de rimas ocorre desde 2013 em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Mas recentemente, segundo os organizadores, vem sendo alvo de abordagens policiais violentas. Movimentos negros e populares pedem um basta a esses atos. 

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima


Leia também


Últimas notícias