Contra a barbárie

Alckmin: ‘Não é que Bolsonaro não confia na urna. Ele sabe que não merece outro mandato’

Em encontro com Lula e Alckmin, Movimentos populares homenagearam Genivaldo de Jesus, morto num camburão da polícia transformado em “câmara de gás”

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"Estamos aqui para denunciar esse projeto de genocídio em curso no nosso país", disse ativista do movimento negro

São Paulo – Pré-candidato a vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin afirmo que Bolsonaro sabe que “não merece outro mandato”. “Não é que Bolsonaro não confia na urna eletrônica. Ele não confia no voto dos brasileiros, porque ele sabe que não merece um outro mandato”. Em evento em São Paulo nesta sexta-feira (27), o ex-governador saudou a união dos movimentos populares, que entregaram, a ele e a Lula, um documento com propostas para reconstruir o país. “É assim que se faz um programa. Não é fazendo motociata, nem subindo em lancha ou iate. É junto do povo.”

Alckmin afirmou que é hora de dar um basta ao atual cenário de sofrimento, à violência, ao desemprego. Também criticou o “negacionismo” de Bolsonaro durante a pandemia. E que, se eleitos, ele e Lula darão “voz e vez” aos movimentos sociais.

“Já foi dito que nada segura a ideia a que chegou no seu tempo. Chegou o tempo do salário mínimo valorizado, da saúde melhor. Chegou o tempo da esperança, chegou o tempo de Lula presidente”, disse Alckmin.

Genivaldo, presente

Um dos momentos mais marcantes do encontro foi quando Simone Nascimento, da coordenação nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), fez uma homenagem a Genivaldo de Jesus Santos, homem negro que morreu asfixiados por gás no porta-malas de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Umbaúba, sul de Sergipe, na última quarta-feira (25). “Ergo esse cartaz que pede justiça por Genivaldo, e peço um minuto de silêncio”.

Simone afirmou que os movimentos populares estão resistindo “a essa barbárie no nosso país”. “Além de Genivaldo, pelo menos 23 pessoas foram vítimas de uma operação na Vila Cruzeiro. Estamos aqui para denunciar esse projeto de genocídio em curso no nosso país, que ganha mais espaço para violar os nossos corpos no governo Bolsonaro. Em maio, no mês da abolição inconclusa, é necessário afirmar que a gente vive racismo há mais de 520 anos nesse país”.

Nesse sentido, a ativista afirmou que será necessário rever a atual política de drogas do país, que resulta no encarceramento em massa e no genocídio da população negra. Assim, também clamou por mudanças nas políticas de segurança, como um todo, que vitimam principalmente aqueles que tem “pele-alvo”, os negros.

Unidade

O coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, destacou a importância do documento Superar a Crise e Reconstruir o Brasil. Isso porque, ao longo de três meses e muitas reuniões, as propostas foram elaboradas por “segmentos da sociedade civil que tem mais conexão com o povo brasileiro e com as periferias, que são os movimentos populares”. Ele diz que espera que as propostas sejam incluídas no plano de governo de Lula. “Aquelas que não forem, nós vamos continuar lutando, nos movimentos e na sociedade”.

Bonfim destacou que foram esses mesmos movimentos que promoveram ações de solidariedade durante a pandemia, dialogando com o “sofrimento profundo” do povo brasileiro. “Tem outros movimentos aí que só vão às ruas quando têm apoio da mídia, para romper com os direitos da classe trabalhadora. O resultado está aí: esse governo de tragédia, fome, miséria e desemprego. Cadê o MBL? Sumiram. Em breve vão parar no lixo da história”, criticou.

Bonfim também afirmou que os movimentos populares “já estão mobilizados” para garantir tanto a vitória como a posse de Lula. “Se o Bolsonaro não quiser passar a faixa para o presidente Lula, nós vamos lá e passamos a faixa”.

Para Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), os problemas enfrentados pelo Brasil são sistêmicos. “Portanto, temos que afrontar esse modelo capitalista, heteropatriarcal, racista, depredador da natureza e LGBTfóbico”. Ela destacou a necessidade de resgatar a soberania “energética e alimentar” da população brasileira. E também cobrou a erradicação de todas as formas de violência. “Por isso, para construir esse projeto, é preciso nomear: é um projeto da classe trabalhadora, popular, antirracista e ecológico.

Pluralidade

Diversas lideranças dos movimentos populares discursaram. Para o vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, o combate ao desemprego unifica a todos. “Para ter moradia, acesso a cidadania, é necessário ter emprego. E o Brasil não tem. Esse governo exclui do povo trabalhador a possiblidade de ter emprego”, disse o sindicalista. Sidnei Pita, da União Nacional dos Movimentos de Moradia (UNMP), afirmou que os trabalhadores não esquecem o que foi o programa Minha Casa Minha Vida.

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, destacou o genocídio negro, os ataques à educação e o desemprego como ameaças a toda a juventude. Também criticou a recente tentativa de parlamentares bolsonaristas de instituir a cobrança de mensalidade em universidades públicas. “Desse lado aqui, queremos discutir um plano emergencial socialmente justo, que inclua a educação e garanta mais direitos ao nosso povo”.

Coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara afirmou que é hora de “aldear a política”. “Lutamos todos os dias contra o garimpo ilegal que segue matando e desmatando os nossos territórios, estuprando e assassinando nossas meninas”. Para a líder indígena, todas essas ainda são consequências do golpes de 2016. Já a secretária de Articulação Política da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), clamou por um “pacto” para interromper os assassinatos de pessoas trans e lembrou que lidera há 13 anos o ranking mundial desse tipo de crime.

Para Kelly Maforte, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), o governante que suceder Bolsonaro tem dois principais desafios: “enfrentar a fome” e “regular o agronegócio”. “Para acabar com a fome é preciso distribuir terras e acabar com a concentração fundiária”. Nesse sentido, ela afirmou que a “semente lançada” já germinou. “E nós vamos colher os frutos em outubro, nessa que é será uma eleição histórica”.


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