Brasil arcaico

Trabalhador resgatado da escravidão é negro e jovem. Número de denúncias dobra em São Paulo

Total de resgatados no país desde 1995, quando foram criados os grupos móveis de fiscalização, chega a 57.644

CC.0 Wikimedia
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Crescem denúncias de trabalho em condições de escravidão também no meio urbano

São Paulo – Os dados sobre trabalho escravo no Brasil continuam mostrando um perfil claro de quem são os principais atingidos. Do 1.937 trabalhadores resgatados de situação análoga à escravidão no ano passado, 90% eram homens e 80% se declararam negros ou pardos. Os dados, da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), vinculada ao Ministério do Trabalho, mostram ainda que 28% dos resgatados tinham entre 30 e 39 anos e 41% moravam na região Nordeste. A maioria tinha baixa escolaridade, e 6% eram analfabetos.

As denúncias no meio urbano vêm crescendo, mas a predominância segue sendo do setor rural. Assim, as ocorrências de trabalho escravo em áreas rurais em 2021 representam aproximadamente 78% do total. E 89% dos resgatados nas operações se encontravam em atividades rurais.

Café, alho, cana

Entre os setores econômicos, em 2021 fiscalização encontrou 310 pessoas em cultivo de café e 215, de alho. Outras 173 foram resgatadas na produção de carvão vegetal. Foram feitas ainda várias ocorrências em serviços de preparação de terreno, cultivo e colheita (151), cultivo de cana de açúcar (142) criação de bovinos para corte (106). 

Os grupos móveis de fiscalização foram criados em 1995. Desde então, já incluídos os números do ano passado, foram resgatados 57.644 trabalhadores, em um total de 6.057 estabelecimentos.

Mais denúncias

Em São Paulo, o Ministério Público do Trabalho (MPT) em São Paulo registrou 180 denúncias de trabalho escravo, aliciamento e tráfico de trabalhadores nos municípios de sua abrangência, que incluem a capital, Baixada Santista, Grande ABC, Barueri e Mogi das Cruzes. O número mais que dobrou em relação a 2020 (87). Todo o MPT recebeu 1.415 denúncias, 70% a mais do que no ano anterior.

De acordo com o MPT, foram ajuizadas 10 ações civis públicas contra empresas que usaram trabalho análogo à escravidão e firmados 17 termos de ajustamento de conduta (TACs). Apenas na cidade de São Paulo, foram resgatadas 47 pessoas, em operações com procuradores (MPT e MPF), auditores-fiscais do Trabalho, Defensoria Pública da União e polícias Federal e Rodoviária Federal.