#4DBolsonaroNuncaMais

Mulheres convocam manifestações neste sábado por ‘Bolsonaro nunca mais’

Atos são organizados em todo o Brasil por coletivos feministas, movimentos sociais, partidos e centrais sindicais

Tomaz Silva/EBC
Tomaz Silva/EBC

São Paulo – Inspirada na campanha #EleNão de 2018, as mulheres voltam a protagonizar neste sábado (4) manifestações nacionais contra Jair Bolsonaro. Com o mote “Bolsonaro nunca mais”, o objetivo das organizadoras é denunciar as “políticas genocidas” do governo e protestar contra a fome, a miséria e o machismo. 

Os atos estão sendo convocados pelas mulheres de 29 entidades que compõem a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, organizada pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular e responsável por outras seis manifestações ocorridas ao longo deste ano contra o governo. Entre elas estão a Articulação Mulheres Brasileiras (AMB), a Marcha Mundial de Mulheres (MMM), o Movimento Negro Unificado (MNU), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro). Militantes de setoriais do PT, Psol, PCdoB também assinam o chamado para os protestos. A manifestação por “Bolsonaro nunca mais” conta com a adesão da CUT e da CTB. 

Até esta sexta-feira (3), 18 atos em capitais e outras dezenas de cidades no interior dos estados já estavam confirmados. Em São Paulo, o protesto está marcado para às 14h, no Masp, na Avenida Paulista. 

Projeto de Bolsonaro é de morte

A avaliação das organizadoras é que o governo Bolsonaro tem sido uma ameaça direta à vida das mulheres. Nas ruas desde maio, as entidades decidiram convocar esse novo protesto para expor especificamente a situação desse segmento da população e também em preparação para 8 de março do próximo ano, o Dia Internacional das Mulheres.

Às vésperas dos protestos, Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual, conversou com a integrante da Sempreviva Organização Feminista e da MMM, Sônia Coelho, que destacou que as razões das mulheres protestarem são “inúmeras”. “Desde o #EleNão que se revelou que este seria um governo fascista, ultraneoliberal, e a gente foi vendo como todo o desmonte das políticas públicas recai de forma a aprofundar muito mais a desigualdade entre homens e mulheres na sociedade. E toda essa situação que estamos vivendo de grande desemprego e inflação no custo dos alimentos são as mulheres que têm que se desdobrar para ter a comida no prato, para ir atrás do gás de cozinha”, denuncia a ativista.

“A maioria hoje perdeu a renda. Quando ele (Bolsonaro) cortou o Bolsa Família foram as mães solo que ficaram sem renda. Aquelas fotos da fila do osso, pegando os restos no caminhão de lixo, são sempre as mulheres que estão nesse lugar. Então é por isso que a gente decidiu, entre os vários movimentos feministas e também as mulheres organizadas em movimentos mistos, que deveríamos terminar o ano fazendo essa atividade para marcar Bolsonaro nunca mais. Porque é contra ele, mas também contra esse projeto bolsonarista que está aí e é um projeto de morte”, ressalta. 

A violência bolsonarista generalizada 

A avaliação dos movimentos é de que o aumento da violência de gênero durante a pandemia de covid-19 também é um reflexo do governo Bolsonaro. A facilitação do acesso às armas, por exemplo, colabora para uma epidemia de feminicídios no país. Levantamento realizado por um consórcio de veículos da mídia independente, Um Vírus e Duas Guerras, mostra que uma mulher foi morta por ser mulher a cada nove horas entre março e agosto de 2020. Uma média de três mortes por dia, sendo as principais vítimas as mulheres negras.

“Toda vez que um governo banaliza a violência, ela aumenta. E a própria sociedade em que vivemos, extremamente misógina, incentiva cada vez mais essa reprodução da violência. E junto a isso tem todo o desmonte que o governo foi fazendo das políticas de atenção às mulheres vítimas de violência. Eles acabaram, por exemplo, com o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência. Com ele, o governo federal interpelava municípios e estados e injetava recursos para que pudessem promover políticas de atenção e prevenção da violência. Hoje não tem mais essa política”, critica.

“E vimos que os recursos que foram colocados no Ministério da Damares (Alves) ela sequer executou”, observa. “Tudo isso faz com que a violência aumente no país. Durante toda essa pandemia, o que foi prioridade do governo não foi comprar vacina ou pensar na fome. Foi pensar em aumentar o acesso às armas no país”, completa Sônia. 

As mulheres do campo

Integrante da coordenação do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) no setor de gênero, Lucineia Freitas também denuncia o aumento da violência de gênero no campo. À Rádio Brasil Atual, ela explica, contudo, que além das agressões físicas, outros tipos de violência se agravaram, como os despejos que continuaram acontecendo mesmo com a pandemia. 

Outra razão pela qual as mulheres protestam, de acordo com ela, é a liberação sem controle de agrotóxicos. O cálculo é que cerca de 1.500 novos tipos de venenos foram liberados ao longo desses três anos de governo Bolsonaro. Algumas substâncias inclusive proibidas pela União Europeia. O que “tem um impacto muito grande na produção e reprodução da vida no campo”, explica a coordenadora. “Houve outros tipos de violência que aumentam e causam diversas formas de sofrimento e que estão no bojo dessa política desenvolvida pelo governo Bolsonaro”, alerta.

Apesar do recorte de gênero, Lucineia destaca, contudo, que as manifestações de amanhã convidam “todas as pessoas que discordam dessa postura (do governo). Os homens também são bem vindos. Eles devem entender que derrotar a misoginia, o fascismo, o patriarcado é função de uma sociedade que quer se emancipar. E não de apenas um setor dessa sociedade”, convoca. 

Confira a entrevista