Injúria racial

Bolsonaristas antivacina fazem ataque racista a vereadora de Campinas

Paolla Miguel, do PT, registrou nesta terça (9) boletim de ocorrência e solicitou imagens da Câmara Municipal para identificar os agressores. “Racismo é uma prática de violência, não dá para confundir com liberdade de expressão”

Câmara de Campinas
Câmara de Campinas
"Auando você ofende e julga alguém dessa maneira pela cor da pele, gênero e orientação sexual, isso é um crime, é racismo", destacou a vereadora. Ato nesta quarta (10) protesta contra o racismo na Câmara

São Paulo – A vereadora de Campinas (SP) Paolla Miguel (PT) registrou boletim de ocorrência na tarde de ontem (9), no 1º Distrito Policial da cidade, após ser alvo de ofensas racistas enquanto discursava em sessão plenária da Câmara. O crime aconteceu na noite de segunda, enquanto a parlamentar falava sobre a importância de um projeto de sua autoria, sobre o Conselho de Desenvolvimento e Participação e o Fundo Municipal de Valorização da Comunidade Negra, que estava entrando em votação.

Naquele momento, segundo imagens registradas pela TV Câmara, um grupo de manifestantes que estava presente desde o início da sessão, protestando contra o chamado “passaporte da vacina”, referiu-se a Paolla como “preta lixo”. A vereadora teve a fala interrompida diversas vezes também por eles, que faziam coro de “vacina mata”.

A manifestação do grupo havia sido convocada pelo vereador bolsonarista Nelson Hossri (PSD), autor de requerimento de urgência que tenta impedir a exigência do comprovante de imunização como condição de acesso a eventos públicos. O projeto não estava em pauta no dia, mas os militantes antivacina tentavam pressionar os demais parlamentares a assinar o requerimento. 

A presença do grupo marcou um dia de sessão tumultuada, como descreve Paolla a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual. A vereadora já tinha subido na tribuna duas vezes para votação de um fundo de assistência municipal. E, assim como outros colegas de bancada, já havia sido atacada, mas com agressões de viés político, conforme explica. Apenas quando voltou à tribuna para falar do conselho para a comunidade negra, a parlamentar conta que as injúrias raciais começaram. Outros insultos que reduziam o projeto como “mimimi” também interromperam sua fala.

Racismo não é liberdade de expressão

As ofensas raciais deixaram também os demais parlamentares indignados. O presidente da Câmara Municipal, Zé Carlos (PSB), interrompeu a sessão para pedir silêncio e respeito. “Alguém na plateia disse uma besteira, nós estamos gravando a sessão, vamos buscar as imagens, e quem falou vai pagar”, afirmou o parlamentar. De acordo com a vereadora do PT, após o aviso do presidente da Casa, os bolsonaristas antivacina tentaram justificar as agressões como “liberdade de expressão”. Mais tarde, ainda segundo Paolla, o vereador Nelson Hossri foi à tribuna argumentar que “a esquerda estava se vitimizando”. 

Ao Jornal Brasil Atual, a parlamentar frisou as agressões como um caso de injúria racial. “A gente consegue observar que isso sim é racismo, uma prática de violência, e não dá para confundir com liberdade de expressão. Não é a posição política de alguém que está sendo criticada. Estamos falando de um caso em que a cor da minha pele foi superior ao que eu estava dizendo naquele momento”, denunciou Paolla. 

Nesta terça, ela também solicitou ao Legislativo as imagens de toda a sessão para identificação e apuração do fato. Com menos de 11 meses de mandato, ela já havia sido destratada por um servidor por ser uma mulher negra. Aos 29 anos, Paolla foi eleita com quase 3 mil votos para o seu primeiro mandato, voltado à defesa das mulheres, da população negra, LGBTQIA+ e da periferia, onde foi criada. 

Ato de solidariedade

“Está sendo um grande desafio ser parlamentar da cidade de Campinas, que foi uma das últimas a libertar os negros escravizados que tinham aqui. Então esse racismo que existe dentro da sociedade é muita vezes gritante”, explica. “E o momento em que eu não consigo falar sobre o projeto do conselho da comunidade negra foi muito triste porque estamos no mês de novembro, discutindo o racismo. Eu estava discursando sobre a importância de ter um conselho para combater essas práticas no município. E fui mais do que interrompida, fui agredida no exercício do meu trabalho”, lamentou Paolla Miguel.

“Não dá para simplesmente deixar esse tipo de coisa passar, por isso fiz questão de fazer o boletim de ocorrência, porque se a gente deixar isso passar, as pessoas vão achar que é como elas disseram, liberdade de expressão. E temos que entender que quando você ofende e julga alguém dessa maneira, pela cor da pele, gênero e orientação sexual, isso é um crime, é racismo”, ressaltou.

Em resposta ao crime, um ato contra o racismo será realizado nesta quarta (10), às 17h30, em frente ao plenário da Câmara de Campinas, na Vila Marieta. Em solidariedade, outras figuras políticas também prestaram apoio e defesa à Paolla Miguel. Pelo Twitter, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou seu “abraço, carinho e solidariedade, contra o preconceito e as ofensas feitas. O racismo é uma praga, uma herança escravocrata que tem que ser eliminada da nossa sociedade”.

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção


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