Desmistificando

Rede bolsonarista tentou atacar enfermeira que recebeu primeira dose da vacina

Primeira brasileira vacinada, Mônica Calazans é alvo da rede de fake news sobre a imunização ter sido encenada. Instituto Butantan comprova que enfermeira recebeu placebo durante os testes, antes de ser vacinada

Governo de São Paulo
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Assim como Mônica, presidenta da Abrasco também defende que os outros profissionais da saúde do grupo de controle recebam a vacina contra a covid-19

São Paulo – Assim que a vacinação contra a covid-19 teve início no domingo (17), as redes sociais foram tomadas por mentiras propagadas pela rede bolsonarista. Uma delas criticava a relação entre o estudo da CoronaVac com a primeira brasileira que recebeu a vacina, a enfermeira, de 54 anos, Mônica Calazans. Ela foi acusada de ser sido “cobaia” do governo de São Paulo, que teria encenado a imunização porque, supostamente, a trabalhadora da saúde já havia sido vacinada. 

A informação se baseava na publicação de uma entrevista de Mônica ao Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren), em 8 de janeiro. Mas as acusações, contudo, são mentirosas. A enfermeira de fato participou como voluntária dos testes da vacina conduzidos pelo Instituto Butantan em parceria com laboratório chinês da Sinovac. Mas, como voluntária, ela ficou no grupo dos que receberam o placebo, e não a vacina.

Nas reportagens sobre a vacinação o fato já era mencionado. O Butantan também comprovou que antes de receber a primeira dose, Mônica realizou teste sorológico para a covid-19. “Que não detectou presença de anticorpos do vírus. Portanto, são falsas as mensagens que acusam suposta encenação”, destacou.

Placebo X vacina

Docente do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj) e presidenta da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo e Silva, médica epidemiologista, comenta que quando se faz uma avaliação de eficácia de uma vacina é padrão que ocorra a divisão de grupos de quem receberá o imunizante ou o placebo. 

Essa etapa, destaca em entrevista a Maria Teresa Cruz, do Jornal Brasil Atual, é conduzida de “forma cega”. O que significa que o voluntário não sabe se tomará a vacina ou se estará no grupo de controle, aqueles que receberão o placebo. A divisão ainda, garante a especialista, é fundamental para mensurar a eficácia do imunizante. 

“Só que a confusão que se faz, e deve ser por isso que estão usando essa informação de forma errada, manipulando a pesquisa, é que durante essa fase em que as pessoas estão sendo vacinadas em cada um dos grupos, as pessoas não sabem. Porque o fato delas saberem (se receberam vacina ou placebo) pode interferir inclusive na resposta. Ela pode ser induzida a dizer que melhorou ou está sentindo alguma coisa”, explica Gulnar. 

Estratégia é correta

A presidenta ainda destaca que foi correta a estratégia do Butantan e do governo Doria em vacinar uma voluntária do grupo de estudo. “A gente sempre chamou atenção que a prioridade seria vacinar o grupo de controle, porque eles participaram do estudo, colaboraram, mas não estão imunizados e são profissionais da saúde”. 

Os voluntários que participaram do grupo de intervenção, ou seja, que receberam a vacina, não precisarão tomar novamente as doses da CoronaVac. “Agora ela (Mônica), e todos os outros do grupo placebo vão ser vacinados”, ressalta a epidemiologista. 

A assessoria do governo estadual, que acompanha a enfermeira, também destacou à imprensa que as acusações não a deixaram se abalar. Nesta segunda (18), a própria Mônica deixou seu registro. “Fui muito criticada, recebia piadinhas, memes, me falaram que eu era cobaia. E eu aprendi que eu não sou uma cobaia e, sim, participante de pesquisa. Agora, meu nome tá aí ó, no mundo todo, 54 anos, negra, brasileira. Vamos nos vacinar. Sem medo”, convocou. 

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima


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