Primeiro passo

Corpo técnico da Anvisa recomenda aprovação emergencial da Coronavac e da AstraZeneca

Gerência-Geral de Medicamentos da Anvisa faz ressalvas, mas aponta emergência para recomendar aprovação da vacina do Butantan. Após análise técnica da AstraZeneca, diretores iniciam votação final

CC.O Wikimedia/Divulgação
CC.O Wikimedia/Divulgação

São Paulo – Na abertura da reunião que analisa pedidos de uso emergencial de duas vacinas contra covid-19, a gerência técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou hoje a liberação do uso emergencial no Brasil da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac, e da AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford com a Fiocruz. Para o aval ser confirmado, porém, ainda falta a votação dos diretores do órgão federal.

(Reprodução)

Em seu parecer, o gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da agência, Gustavo Mendes, destacou algumas “incertezas” sobre a CoronaVac, mas disse que recomenda o uso devido à pandemia, aumento de casos e ausência de terapia eficaz contra a covid-19.

Além de confirmar a eficácia de 50,4% da CoronaVac, ele ressaltou que não foi possível calcular a eficácia da vacina por faixa etária, principalmente entre idosos. “A quantidade de idosos (infectados na amostra) era muito pequena e não permitiu estabelecer perfil de segurança e eficácia da vacina para esse grupo”, disse

Ele ressaltou ainda que há dúvidas sobre a eficácia do imunizante contra casos moderados e graves, já que o número de infecções com esse quadro de gravidade também foi pequeno nos testes. Como já mencionado pelo próprio Butantan, a taxa de 100% de eficácia contra casos graves ainda não tem significância estatística.

Públicas e urgentes

Já com relação à AstraZeneca, Mendes também afirmou que “com a mesma perspectiva, recomendamos a aprovação, condicionada ao monitoramento de incertezas apontadas e reavaliação periódica”.

A Anvisa já antecipou que a decisão sobre ambas as vacinas vai se basear em pareceres de áreas técnicas e que, se aprovadas, serão usadas preferencialmente em programas de saúde pública.

Caso a Anvisa dê aval para o uso emergencial das vacinas, o Brasil já poderá, em tese, aplicar os imunizantes. A medida, no entanto, valerá a partir do momento em que a decisão for publicada no DOU (Diário Oficial da União). Ainda sem confirmação pelo governo federal, é possível haver uma edição extra do DOU ainda neste domingo.

Mudança de comportamento

Ainda antes da apresentação técnica da CoronaVac por Gustavo Mendes, O diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, afirmou que, mesmo com o desenvolvimento de vacinas, a vitória sobre o novo coronavírus só será possível se houver “mudança de comportamento social”.

“O momento é de conscientização, união e trabalho. O inimigo é um só. A nossa chance, a nossa melhor chance nesta guerra passa, obrigatoriamente, pela mudança de comportamento social, sem a qual, mesmo com vacinas, a vitória não será alcançada”, declarou.

Torres fez apelo a que o país siga as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e das autoridades sanitárias e especialistas, que desde o início da pandemia recomendam o uso de máscara, higienização constante das mãos, distanciamento social e evitar aglomerações. Medidas apontadas como únicas formas eficazes de evitar a disseminação ainda maior do coronavírus.

O contrário, portanto, do que diz e faz o presidente Jair Bolsonaro, que adotou postura negacionista desde o início do surto no país, em março passado e faz propaganda de “tratamento precoce” contra a covid-19. As instituições de saúde, no entanto, são unânimes em afirmar que não existe tratamento antecipado eficaz contra a doença.

Siga ao vivo a reunião do corpo técnico da Anvisa sobre as vacinas CoronaVac e AstraZeneca: