"Entre Vistas", com Juca Kfouri

Campanha de Damares contra gravidez precoce está fadada ao fracasso

“Jamais, em tempo algum, isso funcionaria”, diz a médica Ivete Boulos ao participar do programa Entre Vistas

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Ivete Boulos: “A política quando é unilateral, nesse caso vai deixar muita gente de fora"

São Paulo – A campanha lançada pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, em favor da abstinência sexual entre adolescentes para prevenir a gravidez precoce está fadada ao fracasso. É o que diz a médica e infectologista Ivete Boulos. “Jamais, em tempo algum, isso funcionaria, quanto mais nos tempos atuais. Estamos em uma época em que os adolescentes são reconhecidos enquanto sujeitos de direitos. As políticas públicas que têm que ser encaminhadas para eles não podem ser unilaterais, eles têm de participar desde como vai conduzir, como acontece o planejamento, a execução, a continuidade, eles têm direito disso”, afirma.

A médica, que é mãe do ex-candidato à Presidência da República Guilherme Boulos (Psol), coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), participa do programa Entre Vistas, na TVT, com exibição nesta quinta-feira (13), às 22h, e apresentação do jornalista Juca Kfouri. Participam a diretora do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários no Transporte de Passageiros, Urbano, Suburbano, Metropolitano, Intermunicipal e Cargas Próprias de Guarulhos e Arujá Luiza Helena Xavier Owhoka e o psicólogo Rogério Gianini, membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos.

“A política quando é unilateral, nesse caso vai deixar muita gente de fora. Não esqueça que adolescentes que já são pais, adolescentes que sofrem violência sexual, ou que já têm uma vida sexual ativa, vai aumentar muito mais o seu ciclo. Sem falar naqueles adolescentes que não são heterossexuais”, diz a médica.

“Mais uma vez existe uma política pública que vai contribuir com a gestação na adolescência, porque tem a ver com pobreza, exclusão, casamento infantil com um número grande. O que a gente precisa é preparar o adolescente em um cenário multiprofissional, multissetorial, em que haja médicos capacitados e competentes, pediatras e outras especialidades, junto com psicólogos, com o pessoal do programa social para preparar esse adolescente para ele ser responsável nas suas atitudes, não só no comportamento sexual – e dar conhecimento e educação para ele”, diz Ivete.

Ao longo do programa, Ivete defende que as escolas deem educação sexual desde cedo. E que isso, sim, deveria ser uma política pública, para disseminar informação. “Política pública não pode excluir os pobres.”

A médica também fala das ameaças ao aborto legal, cuja legislação existe há 80 anos, o que ela classifica como um risco à autonomia da mulher. Ivete lembra que avanços consideráveis no país estão sob ataque e cita que a primeira delegacia em defesa da mulher do mundo foi criada no Brasil.

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