'tragédia anunciada'

Massacre em presídio do Pará foi nova tragédia de responsabilidade do Estado

Briga entre facções motivou rebelião que deixou 57 mortos no Centro de Recuperação Regional de Altamira

Bruno Cecin/ag.Para
Bruno Cecin/ag.Para
Um relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que o Centro de Recuperação Regional de Altamira é classificada como péssima, com mais que o dobro da capacidade

São Paulo – Os 57 presos mortos no Centro de Recuperação Regional de Altamira são de responsabilidade do Estado. A afirmação é de Thandara Santos, conselheira do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sobre o massacre ocorrido na unidade prisional no sudoeste do Pará, nesta segunda-feira (29). De acordo com ela, o ato de violência era previsto por conta da rixa entre as facções criminosas e a superlotação no local.

“O Estado tem responsabilidade, porque era uma tragédia anunciada. Como tantas outras, essa tragédia era esperada. O próprio secretário adjunto de Inteligência (delegado Carlos André Costa) disse que crescia a tensão entre as facções criminosa e um confronto era esperado”, afirmou Thandara à Rádio Brasil Atual.

O motivo do massacre foi uma disputa entre duas facções criminosas pelo controle da unidade prisional de Altamira, segundo o governo do Pará.  A conselheira explica que o Comando Vermelho e o PCC se nacionalizaram e agora fecham alianças regionalizadas. “No Pará tem uma aliança entre o Comando Classe A, que reivindicou a autoria do massacre, com o PCC. Existe uma tensão entre as facções aliadas em toda a região Norte.”

Relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que o Centro de Recuperação Regional de Altamira é classificado como  de péssimas condições – 343 cumpriam pena no local, mais que o dobro da sua capacidade, de 163 vagas. “A superlotação e as condições de encarceramento acirram mais o conflito. A unidade é feita em alvenaria e contêineres que a unidade era feita de alvenaria e contêiner. Pelo fato das celas serem de contêiner dificultou o resgate dos corpos, pois o ferro estava quente depois do fogo. Isso tudo, somado à ausência de agentes penitenciários, mostra a calamidade que é o sistema prisional no Brasil”, criticou Thandara.

Moro não ajuda e atrapalha

O ministro da Justiça, Sergio Moro, defendeu que os líderes criminosos cumpram suas penas “para sempre” em presídios federais. Ele também disponibilizou vagas em penitenciárias para que eles sejam transferidos e isolados. Thandara Santos rebate a ideia do ex-juiz e aponta que a proposta de prisão perpétua é inconstitucional. “Ele tem tido uma dificuldade para entender a Constituição, como a vedação à prisão perpétua.”

Ainda de acordo com ela, a transferência dos presos para uma unidade federal só ampliaria a força das facções. “Essa solução dele para transferir as lideranças criminosas aos presídios federais não surte efeito, pois diversos especialistas mostram que essas lideranças se promovem e ficam mais fortes na esfera federal”, finalizou.

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