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Bolsonaro e senadores fazem frente de defesa das armas. ‘É fetiche desse governo’

Na Rádio Brasil Atual, especialistas criticam manobras no Senado e decretos do presidente para liberar acesso a armas em meio à crise econômica e ao desemprego do país

Wilson Dias/Abr
Wilson Dias/Abr

São Paulo – Toda a movimentação do presidente Jair Bolsonaro, ao longo desta semana, pela flexibilização do acesso às armas de fogo dá margem à interpretação de um governo “atabalhoado”. A avaliação é do professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Entre a tarde da terça-feira (25) e a madrugada da quarta (26), Bolsonaro recuou dos decretos que ampliavam o porte de armas, mas publicou quatro novos, e um deles repete regras já revogadas. “Uma interpretação é essa incapacidade do Bolsonaro em expedir esses decretos, um atrás do outro, sempre retificando o outro, inclusive uma trapalhada, porque ele não pode por meio de um decreto modificar uma legislação que é o Estatuto do Desarmamento”, contesta o professor.

Em pouco menos de seis meses de governo, o presidente já publicou mais de 145 decretos, um número superior ao das últimas três gestões presidenciais no início de cada um dos mandatos. Para o diretor do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) Yuri Felix, doutor em Processo Penal, Bolsonaro “demonstra o desamor à democracia”. Felix acompanha Romão. “A forma como é feita essa aprovação do acesso ao armamento é completamente atabalhoada e fora da técnica legislativa. É um governo que trabalha na perspectiva de tentativa e erro, ‘vamos fazer assim, se não estiver certo, a opinião pública aceitar ou não, a gente tenta de novo’. Um governo não pode funcionar na tentativa e erro”,  critica Felix.

Armas de fogo em área rural

As investidas pela flexibilização das regras sobre o uso de armas também têm movimentado parlamentares alinhados ao governo que chegaram a aprovar, nesta quarta-feira (26), no Senado, a liberação da posse de armas em toda a extensão das propriedades rurais, anulando a restrição que permitia o uso no interior das residências ou domicílios. Os senadores também deram aval ao projeto que reduz de 25 para 21 anos a idade para aquisição de uma arma por residente em área rural. Na prática, são os interesses do ruralista, pelo chamado agronegócio, que estão sendo visados na contramão da vida da população, avalia Wagner Romão.

Apesar de destacar que a saída da violência não passa pela proibição total do acesso às armas de fogo, na contramão do que afirmam diversos especialistas, o diretor do IBCCrim concorda com Romão quanto à liberação favorecer o aumento da violência principalmente no campo. E ressalta que, diante da situação política do país, o debate sobre as armas não deveria ser uma prioridade. “Esse tema virou praticamente um fetiche desse governo. Nós temos milhões de desempregados no país, temos uma reforma da Previdência que o diálogo é interesse de toda a população brasileira, mas nós estamos discutindo se pode ou não comprar um fuzil”, retruca Felix.

Ouça a entrevista da Rádio Brasil Atual