São Paulo – Este domingo (2) representará mais um capítulo, desta vez possivelmente com ampla vitória, da luta dos cicloativistas pela expansão da mobilidade sobre duas rodas no estado de São Paulo. Cerca de 32 mil ciclistas fizeram inscrição para descer ao litoral santista amanhã, reorganizando uma história que em 10 de dezembro do ano passado terminou com Tropa de Choque e bombas de gás lacrimogênio, quando o então governador Geraldo Alckmin, a Polícia Militar e a concessionária Ecovias, que administra o sistema Anchieta-Imigrantes, receberam os ciclistas com forte aparato repressivo.

A pista Norte da Via Anchieta estará interditada aos automóveis e aberta aos ciclistas entre 6h e 9h, com dois acessos, o principal pelo quilômetro 10, recebendo todos os ciclistas da capital e interior que chegam em ônibus fretados, e pelo quilômetro 22, em São Bernardo do Campo, entre a Rua Joaquim Nabuco e a Av. João Firmino, para os moradores das cidades do ABC paulista.

Muitos ciclistas devem optar pelo Metrô para chegar até a estação Sacomã, da Linha Verde, que fica a cerca de dois quilômetros do acesso pelo quilômetro 10, e bem perto do trecho urbano da Anchieta. Desde a saída da estação Sacomã, os ciclistas encontrarão faixa exclusiva com cones para seguir em segurança até o acesso à estrada, que só será aberta aos veículos às 13h. Outros, ainda, vão se concentrar a partir de seis da manhã na Praça do Ciclista, na esquina da Av. Paulista com a Rua da Consolação, e sair às 7h pedalando em direção à Via Anchieta.

Uma das maiores críticas à realização do evento deste ano tem sido quanto ao reduzido tempo de acesso à pista da rodovia. Segundo os cicloativistas que atuaram na organização, os acessos serão entre 6h e 8h, com um “chorinho” até 8h30. Na última quinta-feira (29), a Polícia Militar divulgou vídeo nas redes sociais informando que os ciclistas serão recebidos até 9h. Mas é bom se programar e não chegar em cima da hora, recomenda o Ciclo Comitê Paulista, que programou o evento.

Como no ano passado, os empecilhos desta vez partem da empresa Ecovias, que alega dificuldades operacionais para deixar a pista aberta por um período maior. O conflito de 2017 também começou por conta da Ecovias, que foi à Justiça, pediu e conseguiu uma liminar para impedir os ciclistas de descerem a serra. Foi de posse dessa liminar que o governo Alckmin e a Polícia justificaram a ação repressiva, que terminou com o retorno à capital de muitos, sem impedir também que parcela significativa furasse o bloqueio e chegasse ao litoral.

Com o elevado número de inscrições deste ano e com a amplitude das negociações que foram feitas o evento deve ser coroado de sucesso. Seu desempenho será fundamental para permitir programar as próximas descidas ao litoral, que devem se tornar mais frequentes.

Essa é a expectativa, por exemplo, da ciclista e auxiliar administrativa Karen Linares, de Ferraz de Vasconcelos, que participa da descida a Santos pela primeira vez, em uma turma de 17 pessoas. O grupo, que conta também com participantes de Poá e Mogi, municípios próximos a Ferraz de Vasconcelos, na Região Metropolitana de São Paulo, vai se deslocar de Metrô do Brás até a estação Sacomã, para começar de lá o pedal em direção ao litoral.

Segundo a ciclista, que neste ano já pedalou 4,9 mil quilômetros com apoio do aplicativo para ciclistas Strava, a principal dica para quem vai encarar a estrada é “ter a bicicleta regulada, freios em dia, equipamentos de segurança (como capacete e luvas), cuidado com o próximo e muita alegria e disposição, porque o local é lindo”. Ela também se arrisca a dizer o que não fazer com base em sua experiência em estradas, como abusar da velocidade e fazer mudanças de faixa sem sinalizar e ter atenção em quem vem na retaguarda.

A organização do evento também recomenda a manutenção da bicicleta, principalmente quanto aos freios, que serão bastante solicitados no trajeto descendente. Pastilhas, se for freio a disco, e sapatas (v-brake, cantilever ou ferradura) em dia são fundamentais para a segurança. Outro ponto fundamental é estar preparado para a chuva, protegendo pertences como documentos, celulares, roupas e alimentos em sacos plásticos dentro da mochila. “Isso é importante porque se começar a chover, com essas proteções o ciclista fica despreocupado e pode ter concentração na pilotagem e segurança”, afirma Karen.

A estrada estará reservada para os ciclistas até o quilômetro 65, onde começa o trecho urbano de Santos, e será aberta para os veículos às 13h. A volta por pedal não será permitida. Por isso, é bom reservar passagem para a volta, pois as empresas de ônibus também estão comprometidas com a organização do evento, e prometem atender a demanda dos ciclistas. As prefeituras de Cubatão e de Santos terão atividades para recepcionar os ciclistas. 

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