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Violência policial na cracolândia motiva ainda mais prefeitura, diz secretário

'Agora estou com muito mais vontade. Vamos trabalhar o dobro', diz Rogério Sottili, titular dos Direitos Humanos, que rejeita explicação da polícia: 'Não venham me dizer que aquilo estava programado'

Raoni Maddalena/RBA

Irritado, secretário de Direitos Humanos classificou operação policial como ‘barbaridade inaceitável’

São Paulo – O secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Rogério Sottili, disse à RBA hoje (24) que a ação da Polícia Civil contra traficantes e usuários de crack motiva ainda mais a prefeitura a seguir adiante com o programa Braços Abertos, lançado há duas semanas para recuperar viciados com ações sociais. Na tarde de ontem, porém, 24 homens e oito viaturas do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) reprimiram frequentadores da região conhecida como “cracolândia”.

“Você chega de forma violenta e isso acaba suscitando a desconfiança dos usuários”, analisou Sottili, ao participar de festividades da comunidade boliviana no Parque Dom Pedro II, centro da capital. “Mas o sentimento que eu fiquei de hoje, depois dessa ação da polícia, é que estou com muito mais determinação e muito mais vontade de que aquilo dê certo. Eu vou trabalhar o dobro para que aquilo dê ainda mais certo. Esse é o sentimento da prefeitura. Espero que a gente faça desse limão uma limonada.”

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Visivelmente irritado, o secretário de Direitos Humanos e Cidadania classificou a ação do Denarc como uma “barbaridade inaceitável”, e a atitude dos policiais, como “descabida, desproporcional e despropositada”. “Aquele povo não precisa de violência, precisa de saúde, de políticas sociais, de cuidados. Era isso que estávamos fazendo, em contraposição à violência da internação compulsória”, comentou, pontuando diferenças em relação ao tratamento que a gestão petista tem reservado aos dependentes de crack.

“Não se pode chegar no meio da população e jogar bala de borracha, bomba de gás lacrimogêneo, agredir com cassetetes. Isso é um absurdo”, continuou, “é uma violência inconcebível em qualquer hipótese, mas muito mais se levamos em consideração o que estava acontecendo lá: um programa desenvolvido pela prefeitura de São Paulo, em parceria com o governo do estado e a sociedade civil, que, pela primeira vez na história, estava enfrentando com seriedade um problema tão grave.”

Sottili refutou as explicações iniciais do Denarc. De acordo com a delegada Elaine Biasoli, diretora do Departamento Antidrogas, a ação de ontem na “cracolândia” não se tratou de uma ‘operação surpresa’. Pelo contrário, faz parte da rotina da Polícia Civil em seu combate diário ao tráfico na cidade. “Não venham me dizer que aquilo estava programado. Não estava, porque ninguém sabia, nem a Polícia Militar, nem a prefeitura”, rebateu o secretário. “E aquilo não é rotineiro, porque a gente já está na região há seis meses e nunca tinha acontecido uma ação tão violenta como essa.”

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