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Denarc afirma que violência foi reação à resistência contra ‘ação rotineira’

Delegada diz desconhecer programa da prefeitura e avisa que novas ações como a desta quinta-feira continuarão ocorrendo. 'Prender traficante é papel social da polícia'

Raquel Cunha/Folhapress

‘A prisão de traficantes faz parte do papel social da polícia’, defende diretora do Denarc

São Paulo – Em entrevista coletiva convocada para explicar a ação policial desencadeada na tarde da quinta-feira (23) na região da ‘cracolândia’, que pode ter colocado em risco a operação de ressocialização de dependentes químicos Braços Abertos, da prefeitura de São Paulo, a diretora do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), Elaine Biasoli, mostrou que, ao contrário do anunciado, o governo estadual não está sintonizado com o projeto.

“Não temos intenção de atrapalhar o programa da prefeitura, nem conheço o programa a fundo. Deve ser mais social. Mas meu problema é policial, é o tráfico”, disse, para justificar a truculência usada durante a prisão de um suposto traficante. Elaine explica que o Denarc mandou uma viatura para “uma ação rotineira”, que seria prender um criminoso já identificado por investigações. “Tanto que fomos com uma viatura descaracterizada”, contou. Ela relata que os primeiros policiais a chegarem na região foram recebidos “a pauladas” assim que deram voz de prisão ao suspeito. Três se feriram. O carro em que estavam teria sido depredado.

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A reação da dupla foi chamar o reforço, que a delegada não soube precisar quanto tempo tardou em chegar. “Mais ou menos meia hora, talvez.” Foi então que a violência tomou conta da rua Rua Barão de Piracicaba, com a chegada de oito viaturas – agora devidamente identificadas com as insígnias da Polícia Civil – e 24 policiais, que usaram bombas de efeito moral, cassetetes e tiros de festim contra os dependentes. “O Denarc não possui balas de borracha”, reiterou a delegada. “São armas que apenas fazem barulho para assustar. Tiveram que ser empregadas porque os policiais estavam em risco.”

No total, cerca de 30 pessoas foram levadas à delegacia. Elaine explica que quatro delas serão indiciadas por tráfico. No momento da coletiva, porém, a delegada não soube precisar a quantidade de droga encontrada com os suspeitos. “Estamos esperando os laudos do Instituto de Criminalística.” Apesar da resistência encontrada pelos policiais, Elaine insistiu em que a ação foi “certíssima” e faz parte do cotidiano do departamento. “Todo dia, onde houver denúncia de tráfico, o Denarc estará presente”, repetiu.

Dizendo-se preocupada com o impacto da venda de drogas sobre a saúde dos jovens, a delegada alegou que a prisão de traficantes faz parte do ‘papel social’ da polícia. “Queremos acabar com o tráfico na ‘cracolândia’, até para preservar os dependentes. Imaginem o que é ter um dependente em casa? Isso desarticula as famílias”, questiona. “Não estou dizendo que se preocupar com a família dos usuários seja trabalho do Denarc, mas quem é que está alimentando os pobres coitados da ‘cracolândia’? É o traficante. A gente pegando, vai para a cadeia.”

Entre 1º de dezembro e 20 de janeiro, segundo o Denarc, foram presas 65 pessoas por tráfico naquela região do centro da capital paulista: 33 apenas no último mês. Eliane reafirmou que o Denarc deverá fazer novas diligências pelas ruas da ‘cracolândia’, independentemente das consequências sobre o programa Braços Abertos. “A prefeitura tem a ação dela, mas onde houver tráfico nossa ação é incondicional. Não dá tempo de avisar ninguém.”

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