Sem críticas

Haddad garante continuidade de programa na ‘cracolândia’: ‘Podem espernear’

No dia seguinte à repressão comandada pelo governo estadual, prefeito de São Paulo mandou recado aos que desejam fracasso do projeto Braços Abertos, mas evitou reiterar críticas e atacar Alckmin

Fábio Arantes/Arquivo Prefeitura

Esta manhã, participantes do projeto trabalharam normalmente, completando nove dias de jornada

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), evitou hoje (24) novos comentários sobre a ação da Polícia Civil na “cracolândia”, na bairro da Luz, na tarde de ontem (23), e preocupou-se em assegurar que o programa vai prosseguir normalmente. “Já me manifestei. A conversa é aquilo que está no noticiário. O nosso objetivo agora é retomar o programa como ele foi concebido”, disse. O prefeito se pronunciou durante a abertura de uma rede de internet gratuita no Pátio do Colégio, no centro da capital.

Por volta das 16h de ontem, policiais do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) chegaram ao local atirando bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, e agredindo pessoas que estavam na região. O Denarc afirmou que a repressão foi em resposta à resistência dos dependentes contra a prisão de um traficante, na região do chamado “fluxo”, local onde ocorrem o tráfico e o uso de drogas. A ação, classificada ontem por Haddad como “lamentável”, foi desencadeada no momento em que a administração municipal leva a cabo o Programa Braços Abertos, que dá moradia, emprego e curso a dependentes químicos.

O prefeito está confiante de que a ação não prejudicou o projeto, lançado na última semana. “Podem espernear, que nós vamos fazer aquele programa acontecer”, afirmou. “Os relatos de hoje são bons. Os profissionais estão trabalhando, as frentes de trabalho estão funcionando e a Polícia Militar está atuando conforme o combinado.” Questionado sobre a reação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), Haddad disse: “Boa. Sempre boa.”

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Haddad afirmou que mais importante é não colocar trabalho social se perder por repressãoO Braços Abertos começou com a desmontagem de barracos, usados como moradia pelos dependentes, nas ruas Dino Bueno e Helvétia.  Eles foram encaminhados para cinco hotéis alugados pela prefeitura na região. Os participantes têm direito a três refeições diárias e salário de R$ 15 por dia de trabalho na varrição e zeladoria de ruas praças, com carga de 4 horas diárias, mais duas de qualificação profissional. Hoje vão ocorrer os primeiros pagamentos dos beneficiários do programa, no valor de R$ 105.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também evitou novos comentários sobre o caso dizendo apenas que eventuais abusos da Polícia Civil serão apurados. “O que não pode é fazer picuinha partidária”, afirmou, segundo o jornal O Estado de São Paulo, durante a inauguração da nova faixa da rodovia dos Tamoios, em Paraibuna, no Vale do Paraíba. Alckmin disse estender as mãos aos dependentes e que é preciso “separar o usuário do traficante”. “O traficante mata. O tráfico é crime”, afirmou.

O secretário Municipal da Segurança Urbana, Roberto Porto, que acompanha diariamente os trabalhos do programa na “cracolândia”, afirmou que recebeu relatos de atendidos sobre a violência da Polícia Civil e que havia policiais portando armas de balas de borracha, versão diferente da oficial.

“Tivemos pessoas atendidas na tenda do Braços Abertos relatando terem sido atingidas por balas de borracha. Eu presenciei policiais civis com a arma disparadora da bala de borracha. Se era somente para intimidar, se houve o uso ou não, cabe à Secretaria de Segurança avaliar”, disse.

Porto demonstrou preocupação com a forma como a ação policial foi realizada, mas acredita que não voltará a acontecer. “Toda e qualquer ação que põe em risco os profissionais de saúde, os atendidos, a imprensa é preocupante. Os beneficiários ficaram revoltados com a ação e demonstraram temor de que o programa pudesse ser afetado por isso. Mas acredito que isso não vai voltar a ocorrer, devido a repercussão que o caso teve”, avaliou.

Para o secretário é preciso diferenciar a prisão de traficantes da repressão aos dependentes. “Ninguém pode questionar a prisão de traficantes. Todos os dias ocorrem duas ou três prisões. Agora, cabe ao governo do estado avaliar se a ação foi correta ou não. Nós a consideramos exagerada, ela tinha um tom de revide”, concluiu.

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