Estudo aponta 32 mil pessoas em situação de rua nas grandes cidades

Pesquisa em cidades com mais de 300 mil habitanges revela situação da população de rua no país. Apenas 16% pedem dinheiro para sobreviver e maioria é de homens.

Lula recebe livro “Rua – Aprendendo a contar” (Foto: Gerardo Lazzari/Sindicato dos Bancários SP)

O Brasil tem pelo menos 31.992 pessoas com 18 anos ou mais em situação de rua. A informação consta da Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, produzida pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O levantamento foi compilado no livro “Rua – Aprendendo a contar”, lançado nesta quarta-feira (23), pelo presidente Lula e o ministro Patrus Ananias durante o sétimo Natal da Vida e da Cidadania dos Catadores e da População em Situação de Rua, em São Paulo (SP).

A obra traz informações sobre quantos são e como vivem os moradores de rua de 71 cidades brasileiras, a partir de pesquisa realizada de agosto de 2007 a março de 2008 em 23 capitais e 48 cidades com mais de 300 mil habitantes. Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Porto Alegre (RS) e Recife (PE) não foram incluídas, por terem dados já consolidados a respeito.

“Ao aprender a contar, a gente coloca o problema diante dos nossos olhos”, aponta Ananias. “Temos de chegar aos mais pobres entre os pobres justamente porque são os que mais precisam. E nos mandam sinais diários de suas vidas em constante perigo”, relata.

Durante o lançamento, o presidente Lula informou que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai contar a população de rua no próximo censo. Pelo sétimo ano consecutivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou-se com catadores de materiais recicláveis e movimentos de pessoas em situação de rua para a celebração de Natal.

Resultados

As 32 mil pessoas em situação de rua equivalem a 0,061% da população destas localidades. Do total, 72% afirmam que exercem alguma atividade remunerada. A maior parcela (28%) é catadora de materiais recicláveis. A atuação como “flanelinha”, carregador, na construção civil e no setor de limpeza são outros tipos de trabalho mais frequentes citados por este público.

De acordo com a pesquisa, de cada cem pessoas em situação de rua, 71 trabalham e 52 têm pelo menos um parente na cidade onde vivem. A atividade mais frequente é a coleta de material reciclável e uma significativa parcela deste público considera boa a relação com os seus familiares.

Os dados revelam que a população de rua não é composta por “mendigos” e “pedintes”. De acordo com a pesquisa, apenas 16% dessas pessoas pedem dinheiro para sobreviver. Além disso, 59% afirmaram ter profissão, principalmente relacionada à construção civil, ao comércio, ao trabalhado doméstico e ao serviço de mecânica. Dos entrevistados, 48% disseram que nunca tiveram a carteira de trabalho assinada.

Quanto aos vínculos familiares, a pesquisa também traz uma surpreendente informação: 52% dos entrevistados declararam que têm algum parente na cidade onde vivem. Deles, 34% mantêm contatos frequentes com a sua família e 39% classificam como boa essa relação. Foi detectado também que 46% sempre viveram no município em que moram atualmente.

Outro dado relevante verificado pela pesquisa é a posse de documentação. Dos entrevistados, 75% têm pelo menos um documento, sendo que a maioria (59%) porta carteira de identidade. Grande parte, 88,5%, não é atendida por programas governamentais. A aposentadoria, o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) atingem, no máximo, pouco mais de 3% desta população.

Mais homens

A pesquisa ouviu pessoas em situação de rua que vivem em calçadas, praças, rodovias, parques, viadutos, postos de gasolina, praias,barcos, túneis, depósitos, prédios abandonados, becos, lixões e ferro-velho ou passam a noite em instituições (albergues, abrigos, igrejas e casas de passagem e apoio).

O levantamento identificou uma predominância masculina (82%) entre as pessoas em situação de rua. A maior parte, 53%, situa-se na faixa etária de 25 a 44 anos. Nesta população, 30% se declararam negros, índice bem acima da média nacional, que é de 6,2%. Já o percentual dos que se consideram brancos é de 29,5% ( esse índice é de 54% entre o conjunto dos brasileiros).

Os problemas causados pelo alcoolismo e as drogas são apontados, pelos entrevistados, como o principal motivo para passar a viver na rua: 35,5% fizeram esta afirmação. O desemprego, com 30% das citações, e os conflitos familiares, com 29%, compõem o quadro de razões que os levam a viver nas ruas.

Dos pesquisados, 70% costumam dormir na rua e 22% em albergues, mas 46,5% preferem passar a noite na rua, principalmente por causa da liberdade, e 44% manifestaram preferência pela instituição, por temer a violência. Quase metade (48%) dos entrevistados que participaram do levantamento está há mais de dois anos dormindo na rua ou em alberque.

Alimentação

Segundo os resultados da pesquisa, 80% das pessoas em situação de rua fazem pelo menos um refeição por dia, sendo que 27% utilizam o próprio dinheiro para comprar comida. Em relação às condições de saúde, 30% afirmaram ter algum problema, como hipertensão, distúrbio mental e Aids, e 19% fazem uso de medicamentos.

Os principais locais para higiene são a própria rua (33%), os albergues(31%) e os banheiros públicos (14%). Estes também são os lugares mais utilizados para fazer as necessidades fisiológicas. Sobre discriminação, as principais queixas se referem à entrar em estabelecimentos comerciais e transporte coletivo.

No levantamento, não foram incluídas três capitais que realizaram pesquisas semelhantes recentemente. São elas São Paulo (SP), com 10.399 pessoas em situação de rua, Recife (PE), 1.390, e Belo Horizonte (MG), 916. Pelo mesmo motivo, Porto Alegre (RS) também não participou da pesquisa.