Siba segue com mistura de regionalismos e modernidades no CD ‘Avante’

O novo disco de Siba, ‘Avante’, que também pode ser baixado pela internet (©Reprodução) Sérgio Veloso, que adotou o nome artístico Siba, é um dos criadores da banda pernambucana Mestre […]

O novo disco de Siba, ‘Avante’, que também pode ser baixado pela internet (©Reprodução)

Sérgio Veloso, que adotou o nome artístico Siba, é um dos criadores da banda pernambucana Mestre Ambrósio, importante representante do manguebeat, que conquistou o mundo ao misturar música regional com a música pop internacional e as possibilidades da música eletrônica. Foi essa união que o cantor, multiinstrumentista e compositor levou adiante ao realizar um trabalho marcante junto ao grupo Fuloresta, em Nazaré da Mata, na zona da mata de Pernambuco, com o qual rodou o Brasil e realizou constantes turnês pela Europa. Agora ele lança um álbum de modo mais livre, uma vez que não está vinculado a uma banda. Trata-se de “Avante”, que está disponível em CD e também para download na internet.

O objetivo principal do álbum fica explícito logo na primeira faixa, “Preparando o Salto”: “Vou passar / Como um santo mudo / Mirando o alto, rindo / Preparando o salto / Deixando pra trás… tudo”. Outra marca é a forte presença da guitarra em faixas como o forte repente “Um Verso Preso”, recitado por Lirinha, ex-Cordel do Fogo Encantado. O instrumento é tocado por Siba, que a divide também com a viola, o que se confirma com a presença Fernando Catatau, guitarrista da banda cearense Cidadão Instigado, como produtor e convidado especial da doce “Qasida”, que, apesar da estranheza do título, é uma das faixas mais facilmente digeríveis e que melhor definem esse trabalho.

Siba aparece cercado por ótimos músicos – Léo Gervázio, na tuba; Samuca Fraga, na bateria; e Antônio Loureiro, no vibrafone e teclados. Essa força fica explícita na ótima “Brisa”. É provável que se sinta certa estranheza no começo, mas depois será difícil não resistir a ela, que parece estabelecer vínculos diretos com bandas internacionais como Beirut. A força dos músicos também é facilmente perceptível na sonoridade de “Bravura e Brilho” remete às tradicionais feiras e parques de diversões do interior.

Há forte presença do que ficou conhecido como o brega dos anos 1970. Esse é o caso da espécie de samba-canção eletrônico “Ariana”: “Não me negue um carinho, pequenina / Só o teu toque alivia o meu desgosto / Ponha rendas de neve no meu rosto / Deixe a névoa cobrir minha retina / Quanto mais acossado, mais respira”. Mas também há espaço para as distorções típicas do rock, como no início de “Canoa Furada”, que se transforma numa canção regional, remetendo ao trabalho do Quinteto Violado.

A ciranda aparece em canções marcadas pelo cantar falado, como na ótima “Cantando Ciranda Na Beira do Mal”: “Pegando carona nas grossas correntes / Se vão tartarugas de cascos brilhantes / Que embarcam nos rumos de praias distantes / Que servem de berço para seus descendentes / Que rasgam os ovos e emergem valentes / E correm sozinhas para se salvar”. Também há muito bom-humor, o que se percebe em “A Bagaceira”: “Pode acabar-se o mundo / Vou brincar meu carnaval / Não quero fantasia / Vou me vestir como der / Num dia eu melo a cara / No outro eu vou de mulher / Pra enganar a fome / Não quero espeto de praça”.

Com a boa dose de estranheza que o novo é capaz de provocar, misturado à tradição musical pernambucana, “Avante” já pode ser considerado um dos grandes álbuns desse ano que mal começou. Sendo assim, Siba segue como um dos mais inventivos, originais e talentosos artistas da atual música brasileira. Evoé, jovem poeta!

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