Para programa da ONU, agricultura passou limite da insegurança alimentar

Modelo de indústria agrícola esgota solos, polui o ambiente e contamina a água, pondo em risco o equilíbrio social (CC/Sam Beebe/Ecotrust/Flickr) Rio de Janeiro – Relatório lançado pelo Programa das […]

Modelo de indústria agrícola esgota solos, polui o ambiente e contamina a água, pondo em risco o equilíbrio social (CC/Sam Beebe/Ecotrust/Flickr)

Rio de Janeiro – Relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) aponta que o atual modelo de agricultura ultrapassou o limite aceitável na exploração dos recursos naturais. O documento, apresentado durante a Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, considera que há riscos sérios para a água, a degradação do solo e as atividades pesqueiras.

Joseph Alcano, cientista-chefe do Pnuma e responsável pelo estudo, considera que é a primeira vez que se relacionam de maneira tão clara os diferentes ecossistemas, suas fragilidades e a insegurança alimentar. O relatório aponta, por exemplo, que o uso abusivo de agrotóxicos está contaminando lençóis freáticos e cursos d’água, prejudicando a pesca. “Se destinarmos 0,6% ao ano do Produto Interno Bruto depois de 2015 em agricultura sustentável, em 2050 poderá se criar 50 milhões de empregos adicionais no setor agrícola. Vemos, portanto, que investir em agricultura sustentável é uma questão de ganha-ganha.”

O estudo afirma que a grande concorrência pela água para uso doméstico e industrial provocará tensões sociais e levará a perdas econômicas por parte dos agricultores. Além disso, as práticas agrícolas convencionais, com uso maciço de agrotóxicos, têm reduzido a biodiversidade e promovido o aumento de pragas e de doenças, acrescidas do desgaste do solo.

“Os governos deveriam estimular os pequenos produtores a conseguirem ingressar no mercado. Quando se faz isso, consegue-se fortalecer e ampliar a economia local, o que é importante na transição à economia verde”, afirmou Alcano. “A agricultura orgânica é mais cuidadosa no manejo do solo, dos fertilizantes, o que resulta em uma prática positiva para toda a sociedade.”

Na questão pesqueira, o Pnuma cita relatório de outra agência da ONU, a FAO, voltada à alimentação, mostrando que 53% dos recursos marinhos estavam totalmente utilizados em 2008, além de 28% que estavam excessivamente usados e 3% que haviam se esgotado. A utilização de dinamite e de venenos vem promovendo a modificação e a perda das características normais dos habitats marinhos.

“Precisamos reduzir os subsídios perversos muitas vezes utilizados para a pesca predatória”, afirmou, calculando em até US$ 30 bilhões anuais os incentivos dados por governos ao setor pesqueiro. Na terça-feira (19), Japão, Estados Unidos, Rússia, Canadá e Venezuela barraram a possibilidade de que o documento final da Rio+20 avançasse no debate sobre uma legislação para os altos mares e na criação de um órgão forte da ONU para tratar dos oceanos.

Na questão alimentar, o relatório sugere uma mudança cultural para diminuir o consumo de alimentos altamente perecíveis. Além disso, as carnes, por demandarem muitos grãos na criação dos animais, também são desaconselhadas. Outra sugestão é a criação de estruturas locais de armazenamento que diminuam as perdas provocadas pela perda de ingredientes que estragam com facilidade. Segundo o Pnuma, todos os anos são desperdiçados 1,3 bilhão de toneladas de comida.