Evento mundial de prefeitos termina em São Paulo

O encontro bianual de prefeitos do C40 discutiu propostas para melhorar o meio ambiente nas cidades, mas anfitriões tiveram pouco o que mostrar

Prefeitos na abertura do encontro do C40

Terminou ontem, em São Paulo, o encontro bianual do C40, entidade que reúne os prefeitos de algumas das maiores cidades do mundo para discutir soluções de sustentabilidade urbana. Além de São Paulo, mais duas cidades brasileiras fazem parte do grupo: Rio de Janeiro e Curitiba. Estiveram presentes, entre outros, o prefeito de Nova Iorque Michael Bloomberg e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton.

A ideia geral do C40 é que os governos dos países acabam perdidos em discussões sem fim sobre possíveis ações que possam beneficiar o meio ambiente, enquanto cidades têm mais flexibilidade para tomar tais medidas. No encontro, foram debatidas diversas formas de tornar as cidades mais sustentáveis, como a promoção de cidades compactas, construções sustentáveis, uso de energia renovável e adaptação a mudanças climáticas.

De alguma maneira, São Paulo conseguiu ser reconhecida como uma cidade com boas iniciativas ambientais, apesar dos próprios paulistanos duvidarem disso. É verdade que uma das iniciativas paulistanas apresentada na C40 é considerada pioneira e efetiva no combate à emissão de gases do efeito estufa: a captação de biogás nos aterros sanitários para a produção de energia. Os gases emitidos pelo lixo em composição são poluentes. Além de retirá-los da atmosfera, a cidade vende no mercado créditos de carbono, lucrando com a operação.

Mas na maior parte, os projetos de São Paulo para o meio ambiente são falhos na execução ou não atingem seu propósito. O rodízio de veículos se encaixa na última categoria. Com o tempo, na verdade, ele só piorou a situação, pois incentivou famílias a adquirirem mais veículos. Na primeira estão ideias como a construção de ciclofaixas, que só funcionam aos finais de semana. Outra é a inspeção veicular, que talvez o projeto da Prefeitura com mais problemas: em primeiro lugar, no início a administração municipal garantiu que bancaria a inspeção dos veículos, situação que mudou logo no segundo ano. Em seguida, aparecem os problemas com a empresa Controlar, muito bem explicados aqui. Por fim, todas as outras políticas urbanas da cidade incentivam a circulação de carros, fazendo com que o efeito benéfico da inspeção veicular seja reduzido.

Os projetos acima, apesar de problemáticos, pelo menos têm uma ligação com o meio ambiente. Mas a Prefeitura apresentou também como modelo ambiental uma das obras mais polêmicas que já foram erguidas na cidade: o Expresso Tiradentes, ou o antigo Fura-Fila, um corredor elevado de ônibus que liga o Parque Dom Pedro ao Sacomã. Aquele que pode ser descrito mais como o minhocão dos ônibus foi apresentado para representantes de cidades de todo o mundo como uma solução para diminuir as emissões de gases do ônibus, já que eles não precisam parar em semáforos e usam combustível limpo. Não sou fã do complexo de vira-latas, mas apresentar uma construção desse tipo como modelo em uma conferência em que projetos como as bicicletas públicas de Paris e o metrô de Nova Iorque são exemplos é uma vergonha nacional. Só as emissões de gases de efeito estufa vinculados à produção do concreto usado para erguer as colunas já devem ter o poder de relativizar o ganho com o consumo dos ônibus. A (falta de) qualidade arquitetônica do corredor tampouco colabora para seu sucesso. Além disso, o Expresso Tiradentes é pouco eficiente, já que transporta cerca de 80 mil pessoas por dia, enquanto o corredor M’Boi Mirim atende 300 mil pessoas. 

Amanhã, escrevo sobre os bons exemplos nos quais as cidades brasileiras podem se inspirar para melhorar o meio ambiente.