Chuif, Diário, chuif…

É…, eu tô chorando de novo, mas dessa vez é de raiva!

Era eu que era pra estar lá no carro conversível, era eu que era para estar lá na rampa, era eu que era para estar lá…

Chuif, chuif…

E o Outro estragou tudo. Pra começar, que discurso foi aquele no Congresso?

Ele falou em conhecimento, árvores, índios, livros, essa bobajada toda. E ainda criticou minha postura na covid e na liberação das armas. Pô, é cada um por si. Não tem essa de “cuidar”. Presidente não é babá, talkei?

Nem pra assinar o termo de posse ele foi bom. Eu usei uma Bic da Compactor. Ele usou uma caneta que ganhou de um cara do Piauí. Piauí? Tenha dó! Lá só tem caju e comunista.

Quando ele passou as Forças Armadas em revista, fiquei torcendo pra alguém mandar um pipoco no sujeito. Mas ninguém teve coragem. Gastei tanto dinheiro com aposentadoria pros militares e nenhum pode me fazer esse favorzinho? Ingratos!

E que mimimi foi esse de acabar com os tiros de canhão? Pô, cachorros e altistas que se danem! Tem que mostrar que faz barulho, que tem arma, que pode matar, talkei?

Mas o pior de tudo, o que me fez morder os dentes de raiva, foi a passagem da faixa.

Pô, o Outro subiu a rampa com criança, negro, índio, manco, gorda e operário… O que ele quis dizer com isso? Que é o povo voltando pro poder? E aquela catadora botando a faixa nele em vez de mim, o quê que significa? Que não fui eu que passei a presidência para ele, mas as mulheres? As mulheres negras e pobres? Bah!

Até choro de raiva. As lágrimas escorrem dos olhos, se misturam com o meu ranho e caem na minha boca. É amargo.

Diário, eu pensei que ia ficar no Palácio da Alvorada pra sempre

Ah, se fosse eu, a cerimônia seria muito melhor. Meus três filhos iriam comigo no carro (que seria dirigido pelo Piquet) e eu ia subir a rampa com o Veio da Havan, o Neymar, um bispo, um madeireiro e um fabricante de armas. Ia assinar o termo de posse com um lança-chamas e as balas de canhão iam cair bem no STF.

Ia ser lindo, chuif, chuif…

Olha, Diário, quatro anos atrás, exatamente depois da minha posse, eu abri você pela primeira vez. Mas, agora, qual o sentido de continuar escrevendo?

Vou te fechar. E acho que não vou te abrir nunca mais.

Chuif, chuif…

#diariodobolso