Diário do Bolso

O dia em que quase eu dei o golpe

Aquele urubu do Celso de Mello tinha dito que queria meu celular. Tá louco? É nunca! Nem minha mulher encosta no meu telefone!

Quem será que contou? Será que foi um garçom? Será que algum general falou pra uma garota de programa e ela abriu o bico?

Se eu pegar quem foi, boto na rua com um pontapé no meio dos fundilhos! Encho de ozônio o furico do sujeito!

Não sei qual o nome do infeliz, mas alguém contou pra revista Piauí (aquela dos banqueiros comunistas) tudo que aconteceu no dia em que eu quase acabei com o STF! O dia em que eu quase dei um golpe.

Foi em 22 de maio. Aquele urubu do Celso de Mello tinha dito que queria meu celular. Tá louco? É nunca! Nem minha mulher encosta no meu telefone!

Quem estava no meu gabinete era: o Braga Netto, da Casa Civil, o Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e eu. O General Heleno chegou atrasado. Tinha ido no médico. Não lembro se era covid ou exame da próstata. Mas não interessa. Eu estava fulo da vida e disse:

“Vou intervir!”

Minha ideia era mandar as tropas tirarem aqueles onze corvos do STF. Nem sei quem eu ia colocar no lugar, mas que ia fazer um furdunço, eu ia.

O Luiz Eduardo achou uma boa ideia, porque aquele negócio do Alexandre de Moraes impedir o Ramagem de ser o chefe da Polícia federal já tinha sido um absurdo. Se eu quero colocar um cupincha lá, eu tenho que poder colocar, pô!

O Augusto Heleno, que geralmente é meio nervosinho, veio botando panos quentes. Ele achava que não era pra tanto. Deve ter passado no médico da próstata, porque estava muito manso.

Aí chegaram o André Mendonça, que hoje é meu despachante, quer dizer, ministro da Justiça, o Fernando Azevedo, da Defesa, e o André Levi, da Advocacia-Geral da União.

A gente ficou debatendo pra ver se dava pra dar uma cara de legalidade pra coisa. Só comecei a me acalmar quando me explicaram que ainda não havia ordem pra pegar meu celular.

E me tranquilizei de vez quando o Heleno fez uma nota em que ameaça dar o golpe, dizendo que pegar meu celular traria “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.

Acabou que não entreguei meu celular e, por causa daquela frase de macheza, os colegas militares do Heleno deram um monte de tapinhas nas costas dele.

Bom, Diário, eu até quis, mas não foi dessa vez. Na próxima, quem sabe…?

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