Banda baiana Vivendo do Ócio revigora rock brasileiro

Os baianos do Vivendo do Ócio: nova geração de uma terra de poucos e bons roqueiros (Foto: ©Ricardo Calabro/Divulgação) Um rock explosivo, melódico e nostálgico. Assim pode ser definida a […]

Os baianos do Vivendo do Ócio: nova geração de uma terra de poucos e bons roqueiros (Foto: ©Ricardo Calabro/Divulgação)

Um rock explosivo, melódico e nostálgico. Assim pode ser definida a sonoridade da banda baiana Vivendo do Ócio, no seu recém-lançado terceiro álbum, “O Pensamento é Um Ímã”.  A produção é de Rafael Ramos (conhecido por trabalhar com, entre outros, Matanza, Cachorro Grande, Pitty, Dead Fish e Los Hermanos) e Chuck Hipolitho (ex-Forgotten Boys, atual Vespas Mandarinas e VJ da MTV). O disco foi masterizado em Los Angeles, nos Estados Unidos, pelo prestigiadíssimo Brian “Big Bass” Gardner, que trabalhou com, entre outros, Foo Fighters, Queens of the Stone Age e David Bowie.

Vivendo do Ócio é formado pelo vocalista e guitarrista Jajá Cardoso, pelo baixista e vocalista Luca Bori, pelo guitarrista Davide Bori e pelo baterista Deguito Reis. A banda surgiu em 2006, quando Jajá e Luca se reuniram para tocar em casa, no Centro Histórico de Salvador (BA), e as referências vão de Beatles e Rolling Stones a Strokes, Hives e Arctic Monkeys. Em 2008, eles lançaram o álbum “Teorias de Amor Moderno” e, no ano seguinte, “Nem Sempre Tão Normal”.

A proposta desse terceiro álbum, “O Pensamento é Um Ímã”,  fica explícita logo na primeira canção, “Bomba Relógio”, que mistura um rock pulsante com uma letra bastante ácida: “Demorei pra ver no que errei / Andando em círculos / Era pra ser menos difícil / Existem coisas a considerar / Mesmo assim não vou negar o fim / Você fique aí achando que eu pirei / Já fiz minha escola / Não vou repetir outra vez”. O som fica ainda mais pesado na faixa seguinte, “Silas”, em que a banda tem a proeza de incluir “fizera-me” numa letra de rock. Nada mais audacioso num meio em que a linguagem coloquial é a regra. Merecidamente, ela ganhou videoclipe realizado na Itália.

Uma das melhores canções é “Tudo Que Eu Quero”, que tem boa pegada nostálgica: “Eu quero tantas coisas / Eu quero ler mais, eu não leio / Eu quero ir pra praia / Mas às vezes falta tempo / O que eu não quero é ficar em casa se chover / E se quiser / Siga pra onde apontar o pé”. Nada mais de acordo com a música seguinte, chamada justamente “Nostalgia”, em que manifestam o desejo de ficar alguns dias em casa e a saudade da Bahia, e contam com a participação da dupla Agridoce, formada pela cantora Pitty e pelo guitarrista Martin: “Felizes são os pássaros que chegam mais cedo que eu à suprema fraqueza / E voando caem felizes e abençoados… / Nos parques onde a primavera é eterna”.

Num misto de Los Hermanos com Skank, e com pegada eletrônica, “Dois Mundos” mostra outra vertente de Vivendo do Ócio. A banda carioca inspirou também a boa “Por Um Punhado de Reais”, que retoma o espírito hippie dos anos 1970: “Em frente uma estrada / Um curvo caminho a trilhar / Nas mãos uma guitarra / E o necessário pra seguir / Não me bastou comer e dormir / Preciso me expandir pra me achar / Vai ser bom, bem melhor se você me acompanhar”. Em “Radioatividade”, as referências são as bandas norte-americanas White Stripes, Strokes e Kings Of Leon. “O Mundo é Um Parque” conta com uma batida bem mais funkeada e dançante.

O “crème de la crème” está reservado para ‘O Mais Clichê”. A canção chama atenção pela sonoridade com ares flamencos, misturados a certa influência da orquestra norte-americana Beirut, e por contar com a participação do baixista Dadi Carvalho, reconhecidamente um dos melhores instrumentistas do país, tendo passado pelas bandas Novos Baianos, A Cor do Som e Barão Vermelho. A letra também é um achado: “Um caminho na minha vida / Indo de encontro o que eu sempre quis / Dentro de mim uma resposta curta / Quatro letras e uma canção / Pode parecer o mais clichê dos clichês / Pode se esconder se você não notar”. Ela abre espaço para mais dois rocks vibrantes e viscerais, “Preciso Me Recuperar” e “Eu Gastei”.

“O Pensamento é Um Ímã”, portanto, é para ser escutado no volume máximo e para tocar sem parar nas mais diferentes casas noturnas do país, provando, para quem duvidava, que o rock brasileiro está mais vivo do que nunca. Vivendo do Ócio é uma ótima prova, demonstrando que vale a pena olhar para o passado, buscar referências também no presente e apostar no futuro.