Com Dilma em Cuba, um Jornal Nacional com a cara de Hillary

O telejornal da TV Globo voltou a manipular notícia nesta terça-feira, ao exibir matéria sobre direitos humanos em Cuba de um jeito bem ao agrado da embaixada estadunidense

Em visita a Cuba, a  presidente Dilma Rousseff deu uma aula política em sua entrevista coletiva em Havana, ao dizer que direitos humanos era assunto importante demais para ser usado como arma para umas nações tirarem proveito político das outras. Disse que era tema para todos os países se comprometerem, pois todos tem “telhado de vidro” para atirar pedras nos outros, citando os Estados Unidos com a prisão de Guantánamo e até o Brasil (sem citar casos, mas é impossível, neste momento, não lembrar do Pinheirinho).

Mesmo assim, o Jornal Nacional  tentou manipular o telespectador fugindo dos fatos objetivos e roteirizando a notícia. A abertura da matéria já mostrou uma conclusão pronta: “A presidente Dilma Rousseff relativizou a importância da discussão sobre o respeito aos direitos humanos na ilha comunista”, leu William Bonner.

Mesmo que a entrevista da presidenta desminta essa conclusão precoce, pois em nenhum momento Dilma disse que Cuba não tem problemas na área de direitos humanos, disse que não considerava adequado usar o tema, nem se deixar ser usada como instrumento de países imperialistas, apenas para desestabilizar o governo cubano.

Até estamos acostumados com esse tipo de manipulação na TV Globo, mas o que causou estranheza fora do comum foi o final da matéria. O telejornal escolheu para opinar um deputado que a maioria dos brasileiros desconhece: Arnaldo Jordi (PPS-PA), deputado em seu primeiro mandato federal e pouco conhecido fora de seu estado. Obviamente a opinião do deputado referendava o roteiro traçado pela embaixada estadunidense… ops… quer dizer, pelo telejornal.

Por que o JN não escolheu os mesmos de sempre? Os líderes da oposição Duarte Nogueira (PSDB-SP), ou ACM Neto (DEM-BA), ou Álvaro Dias (PSDB-PR)?

Porque o deputado Arnaldo Jordi compõe a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, assim daria um viés institucional à opinião oposicionista.

Mas o problema é que a Comissão de Direitos Humanos é presidida pela deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), e o primeiro vice -presidente é o deputado Domingos Dutra (PT-MA). Nenhum dos dois foi procurado pela Globo, porque sabidamente têm a mesma opinião de Dilma. O deputado Jordi é apenas o terceiro na hierarquia da Comissão, e foi o escolhido a dedo para a reportagem atender a encomenda.

A Globo é quem relativiza sua defesa dos direitos humanos

A TV Globo está sendo investigada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara por violação de direitos humanos no programa Big Brother Brasil, após a denúncia de estupro de vulnerável, mas sequer comenta isso no telejornal.

A TV Globo nunca noticia os cinco presos políticos cubanos nos Estados Unidos, alvo de extrema injustiça e arbitrariedade, e que gerou uma intensa campanha internacional pela libertação deles. Até o ator de Hollywood e ativista Danny Glover gravou um vídeo este ano em apoio à causa.

 Dilma concedeu visto a uma blogueira cubana, mas os EUA não concederam visto para duas esposas visitarem seus maridos, dois dos cinco presos políticos. E isso não interessa ao telejornal.

Quando Dilma visita países com graves denúncias de violação aos direitos humanos como a Colômbia – aliada dos Estados Unidos na América do Sul –, o tema não é cobrado. Como se vê, quem relativiza a discussão sobre direitos humanos é a TV Globo, repetindo as mesmas diretrizes de Hillary Clinton.