“Se não houver voto impresso não haverá eleições”, foi a ameaça mais recente vinda de um militar. Como a gente constrói uma sociedade sob ameaças? E como um servidor do Estado ameaça o Estado que trabalha por servir? Por que não há inquéritos nem investigações, nem indiciamentos? Como se manterá uma democracia que se cala diante de ameaças que atentam contra a sua existência?

Os entregadores estão a caminho da greve, porque não querem continuar a trabalhar sob ameaças de grupos paramilitares. Um número considerável de cidadãos e cidadãs no país mora e vive sob ameaça de milicianos, enquanto um outro grupo semelhante vive e mora sob ameaça de narcotraficantes. Nós, pretos e pretas, vivemos sob medo da polícia. Os indígenas estão sob ameaça de grileiros, garimpeiros ilegais, desmatadores da floresta e jagunços.

A lista dos ameaçados por defender os direitos humanos, que precisam de proteção do Ministério Público, só aumenta no país.

Um deputado tenta se esquivar de sua obrigação de denúncia alegando as ameaças que sofrerá.

Todos ficamos calados diante da perda de direitos sob a ameaça de não haver mais empregabilidade.

Bilhões de reais são entregues aos congressistas sob medo de perder a governabilidade ou para salvar a governabilidade já perdida.

E as vacinas foram ameaçadas pelas propinas

Não há segurança nem respeito para os fiscais que se esmerem em cumprir a sua tarefa.

Discordar do presidente pode ser muito perigoso, dependendo de quem ouve a fala.

Enquanto isso a fome, a morte e o desemprego avançam, o país se desindustrializa, e o agronegócio tóxico devora os biomas.

Eis um quadro que descreve o estado de coisas que ora vivemos.

Vivemos?

Ariovaldo Ramos é coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito e apresentador do programa Daqui pra Frente, toda quarta, às 20h, na TVT

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