Na guerra de Alckmin contra ensino público, a cumplicidade dos jornais
Em dia de almoço com a direção da 'Folha de S.Paulo', Geraldo Alckmin janta o jornalismo. E tenta sustentar a blindagem necessária a suas ambições políticas
Publicado 02/12/2015 - 19h08
Governador tachar de motivação política a reação estudantil é normal; mas dizer o que quer e nunca ser questionado…
Um post da fotógrafa e produtora Camila Picolo em seu perfil no Facebook, publicado ontem por ela e hoje (2) pelo Jornal GGN, informa que a TV Folha retirou do ar uma reportagem sobre a ocupação das escolas. O vídeo retrata a “causa” dos estudantes que ocupam escolas, a forma como se organizam e se comportam para manter as unidades limpas, conservadas, intactas, o que pensam os pais desses adolescente. E mais importante: deixam claro que esses jovens cidadãos estão longe, muito longe, de agir por “motivação política”, como alega o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao justificar a repressão policial intensificada com o objetivo de intimidar os estudantes. O vídeo foi publicado e no mesmo dia retirado do ar pela TV Folha. No mesmo dia em que Alckmin visitou o jornal Folha de S. Paulo em almoço.
Ontem mesmo, o UOL expunha em sua página inicial chamada com o título dúbio “MP vai à Justiça contra escolas fechadas em SP”. O português maltratado serve para dar dubiedade à chamada: o leitor deve interpretar que o Ministério Público aciona as escolas fechadas (ou seus ocupantes), e não o governo, sujeito que determina o fechamento das escolas, como informa o título mais adequado da matéria relacionada à chamada: “Promotor vai à Justiça contra reforma de ciclos de Alckmin”.
Hoje, com o objetivo de defender a ação repressiva da polícia, os portais repercutem um argumento surrado dos tucanos em São Paulo, sempre que são contestados por alguma reação social para a qual não têm resposta.
Se há um protesto contra a má qualidade do transporte a cargo do estado (metrô, trens, ônibus intermunicipais), a motivação é política. Se o protesto é pela condução desastrosa da crise hídrica, é motivação política. E idem, idem, idem se se contesta a violência policial contra a juventude negra, as CPIs abafadas na Assembleia Legislativa, da passividade bovina ao governador, o salário humilhante dos professores, as condições humilhantes de ensino nas salas superlotadas, o sucateamento dos institutos de pesquisa sob controle do estado, o abandono de parques, museus e patrimônios culturais, como o Memorial da América Latina ou o Museu do Ipiranga.
Com disse outro dia o prefeito Fernando Haddad, se fosse obra da prefeitura o monotrilho que custou R$ 7 bilhões para funcionar num trecho de duas estações, ele não poderia andar na rua. Alckmin pode tudo.
Se os movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda tradicionais tivessem – e teriam todas as razões do mundo para apoiar os movimentos contra a agora chamada “reforma de ciclos” das escolas – condições materiais e humanas de capitanear mais de duas centenas de ocupações no estado, Alckmin não seria governador e tampouco teria sua maioria cega, surda e muda no Legislativo.
O que os jornais paulistas estão fazendo em mais um esforço de blindagem do político que quer disputar a presidência em 2018 é tão indecente quanto a política que há 20 anos promove o sucateamento do ensino público no estado mais rico do país.