Na Espanha, primavera e bombas

Japão e Líbia sob olhos espanhóis

Madri – Nesta segunda-feira (21), é o inicio da primavera, e a Espanha tem dias ensolarados, com temperaturas de 20ºC às 14h e 8ºC na madrugada. Esse bom tempo do sábado e domingo motivaram o retorno de milhares de madrilhenhos às ruas, parques, museus, tiendas e cafés, lugares onde se aprecia tapa, cerdo ibérico, frutos do mar, arroz, cerveja, sangria e vinho.

A primavera veio com as bombas na Líbia. As bancas expõem diários com fotos coloridas da guerra. Sim, se falam em guerra e a mídia hesita entre o apoio e a critica. O Japão fica para um quase terceiro plano. Os mortos e desaparecidos saem do destaque onde ficam só as preocupações com os  alimentos contaminados que já chegam a Tóquio.

Autoridades espanholas se esforçam para comemorar a criação de uma zona de exclusão aérea, porém Muammar Kadhafi reage atacando a cidade de Misrata e promete armar um milhão de civis para uma guerra demorada, no que chama de “Odisséia ao Amanhecer”.

Outro esforço das autoridades é a afirmação de que se trata de uma guerra diferente da do Iraque – oito anos depois – e que, agora, cumpre-se uma “ordem” da Organização das Nações Unidas (ONU), apoio que vai do governo, da oposição e do rei Juan Carlos I.

O apoio à ação no Iraque por parte da Espanha comandada pelo líder do Partido Popular (PP), de direita, José Maria Aznar, foi um dos aspectos decisivos para desgastá-lo internamente. O ataque partiu de uma coalizão comandada pelos Estados Unidos sem aval da ONU.

O Brasil é mencionado em foto com um “agradecimento” de apoiadores de Kadhafi pelo voto contrário na ONU à resolução do Conselho de Segurança do organismo multilateral, que autorizou a instalação de uma zona de exclusão aérea. Em outras fotos, aparecem líbios dando vivas à intervenção.

Nessa mistura de primavera e bombas, a mídia aponta o frenesi da Espanha e da França em ordenarem os ataques como tentativa de colherem dividendos políticos internamente. São levantadas dúvidas quanto ao desempenho eleitoral do PSOE, atualmente no governo, já que as medidas amargas para combater a crise em 2008 tiveram pouco resultado, apesar dos cortes de benefícios sociais e nas aposentadorias. Há desemprego de 22% – sendo de 30% entre os jovens.

Neste final de semana, o primeiro-ministro José Luís Zapatero disse que não concorre em 2012, o que abre uma disputa entre os barões do PSOE.

A um lojista de sapatos, pergunto sobre a guerra. Ele responde com apoio. Ele teme retaliações terroristas, como a explosão nos trens em 2004 que matou 192 pessoas? Ele me olha, franze a testa e não sabe responder.

Na praça Puerta del Sol, jovens da Esquerda Unida (IU, na sigla em espanhol) fazem um protesto. Um dos cartazes diz: “Lutei contra o PP e me cansei de ZP”, em alusão a Zapatero.

Em vários cantos, grupos de jovens de origem ou ascendência japonesa, com megafones e gritos angustiados, pedem ajuda e recebem pouca atenção e moedas. Com toda a estridência, recebem muito menos do que os músicos, artistas e camelôs, o que pode dar razão a outro cartaz: “França e Grécia lutam. Espanha triunfa, em futebol”.