Usinas nucleares: uma bomba relógio na Europa…

Sarcófago de Chernobyl, no norte da Ucrânia, é símbolo dos riscos de usinas nucleares, mas combate ao aquecimento global é principal argumento para retomar matriz energética (Foto: Ben Fairless/Flickr) Gostaria […]

Sarcófago de Chernobyl, no norte da Ucrânia, é símbolo dos riscos de usinas nucleares, mas combate ao aquecimento global é principal argumento para retomar matriz energética (Foto: Ben Fairless/Flickr)

Gostaria de lançar uma pergunta aos leitores: o que, no fim de contas, o Brasil deveria fazer em matéria de usinas nucleares? Desativá-las? Manter as existentes? Construir mais?

Na Europa, a questão voltou a pegar fogo.

Na Alemanha, onde o governo tomou a decisão de prorrogar a vida das 17 usinas existentes até 2035, em alguns casos, e no mínimo até 2027, a questão provoca polêmica em cima de polêmica, e no sábado, 18, haverá uma grande manifestação contrária em Berlim.

Nessa manifestação aguarda-se pelo menos 30 mil pessoas, segundo os organizadores, mas pode haver muito mais. De repente criou-se uma “onda” europeia, e virão militantes anti-nucleares de muitos países, como a França, a Inglaterra, a Suécia (onde, na próxima eleição, a questão também é parte da pauta). Os partidos da oposição (SPD, social democrata, Verde e a Linke – a Esquerda) vão participar, mas também haverá dissidentes, nessa questão, dos partidos da coligação liderada pela Chanceler Ângela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), e o Partido da Liberdade e Democracia (FDP). Há uma insatisfação quanto à decisão em si, mas também pelo modo como ela foi tomada, considerado anti-democrático e autoritário. 56% do eleitorado alemão são contra a prorrogação da vida das usinas nucleares, alegando insegurança, a possibilidade de ataques terroristas e a questão do lixo atômico.

De qualquer modo, a questão terá de ser debatida no Parlamento, onde o governo tem maioria. Mas poderá também ser debatida no Bundesrat, Conselho da República, equivalente ao nosso Senado Federal, mas escolhido indiretamente, pelo conjunto das províncias e cidades-estado (Berlim, Bremen e Hamburgo), onde o governo é minoritário.

Argumentam os defensores das usinas nucleares que elas são necessárias para combater o aquecimento global, pois são menos poluidoras do que outras e trazem menos impactos para o meio-ambiente. Argumentam os contrários que elas são inúteis, perigosas e seu lixo radioativo pode comprometer não só a qualidade de vida das futuras gerações, mas até a sua própria vida, pura e simples, além de evocarem acidentes como o de Chernobyl.

A questão aumenta em complexidade se atentarmos para uma questão concorrencial. 75 % da energia elétrica consumida na França vêm dessas usinas, país que detém um quarto do número delas na Europa. Ou seja, elas se entranharam de tal modo na vida francesa que seu fechamento provocaria um colapso na economia, e também no modus vivendi daquela sociedade.  Isso implica dizer que não basta investir em modos de produção alternativos (como muitos governos de fato fazem), mas é também necessário investir em educação para outros padrões de consumo, a curto, médio e longo prazo.

A questão ainda se reveste de aspectos políticos complicados. A atual lei, que prevê o fechamento das usinas até 2021, foi fruto de uma negociação entre o SPD e o Partido Verde, quando ambos formavam uma coligação no governo anterior ao de Merkel. Nessa negociação os Verdes aceitaram apoiar o envio de tropas alemãs para o Afeganistão, em troca do “dead line” para as usinas. O tema foi e é polêmico também, porque a intervenção – com as tropas alemãs juntas – revelou-se um mico, e é cada vez mais impopular na Alemanha e na Europa inteira.

Se o governo vencer essa parada, vai parecer, apesar da direção do SPD estar firmemente contrária à prorrogação, que isso de por fim a usina nuclear é coisa “para Verde ver”. Pois o que se teme é que, na verdade, vencida a atual batalha, as usinas, e as empresas que as mantém e com elas lucram, mais até do que o governo, terão vencido a guerra.