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Europa tem projetos para evitar desperdício de alimentos

Montante de produtos agrícolas que é jogado fora corresponde à produção de 30% das terras aráveis no mundo

EBC/ARQUIVO

São iniciativas que, por si só, não vão resolver o problema da fome, mas que podem sinalizar algumas soluções

Segundo a FAO, organização da ONU para o combate à fome no mundo, hoje presidida pelo brasileiro José Graziano (até 2019) – anualmente vai para o lixo 1,3 bilhão de toneladas de alimentos. Isto daria para alimentar 1 bilhão de pessoas durante um ano, sendo que o contingente mundial de gravemente famintos vai a 800 milhões. O montante de produtos agrícolas que é jogado fora corresponde à produção de 30% das terras aráveis no mundo.

Um problema dessa magnitude exige soluções de igual porte. Mas há algumas iniciativas localizadas que podem sinalizar soluções, até porque um grande contingente das pessoas atingidas pela fome habita em cidades.

Na Dinamarca, há uma pequena rede de supermercados (dois no momento), aberta este ano, que se especializou em vender alimentos com data de validade vencida. Ela opera na capital, Copenhague. No país, não é ilegal vender alimentos com data vencida, desde que isso seja claramente informado ao consumidor e eles não apresentem riscos para a saúde. São produtos alimentícios que podem eventualmente perder um pouco de sabor original, por exemplo, sem que isso se torne perigoso para quem vier a consumi-los.

Estão neste caso, por exemplo, óleos, azeites, pipoca, produtos de confeitaria, farináceos, massas, algumas conservas e até mesmo legumes e frutas. O caso de carnes e peixes é mais complicado, inclusive em conserva. Deve-se levar em conta também que a maioria dos produtores “encolhe” o prazo de validade por medida de segurança. A empresa recebe doações de outras congêneres, e vende os produtos com grande redução de preço, da ordem de 50%. O sucesso veio ao natural: em março foi aberto o primeiro supermercado e agora, recentemente, a primeira filial.

No Reino Unido, existe uma iniciativa feita por uma rede, a The Real Junk Food Project. Seus organizadores dizem que ela não é uma instituição de caridade, e sim uma empresa. Ela coleta doações de supermercados e restaurantes, juntando produtos que estejam com datas de validade por vencer, e os utiliza para produzir refeições, oferecidas em cafés chamados do tipo “pague quanto e como quiser e puder”. As pessoas que se valem dessas refeições podem pagá-las, por exemplo, em serviços variados: ajudando na cozinha, lavando louça, limpando janelas e o chão, ajudando nos carregamentos etc., ou então pagando o que puderem e quiserem em dinheiro. A Real Junk Food também aceita doações financeiras. O grupo também atua na França, na Alemanha e na Austrália.

Na França, lei recentemente aprovada proíbe os supermercados de jogarem fora produtos alimentícios. Os estabelecimentos devem obrigatoriamente manter contratos com instituições de caridade para doar a elas produtos alimentícios que estejam perdendo a validade sob pena de, em caso contrário, enfrentarem multas. A iniciativa foi bem aceita pelos supermercados, não havendo queixas até o momento.

São iniciativas que, por si só, não vão resolver o problema da fome, mas que podem sinalizar algumas soluções, mesmo que parciais. Por exemplo, na Inglaterra, 25% dos melões importados são jogados fora, além de outros desperdícios.