Os muitos Gês da nossa vida

O G-8 já foi G-6 e pode ser G-14. O G-20 pode ser o que discute a crise ou outro, para debater o comércio na OMC. Entre a busca por protagonismo brasileiro e a a articulação para se contrapor às nações mais ricas estão os argumentos do debate

Obama recebe camsia da seleção brasileira em Áquila, na Itália (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência)

Uma questão às nossas leitoras e aos nossos leitores: deve o Brasil continuar privilegiando o fórum internacional conhecido como G-20, como vem fazendo, mesmo durante a presente reunião do G-8, em L’Aquila, na Itália? Há quem diga que sim (como este blogueiro), mas há quem diga que não.

Antes de mais nada, uma consideração: na nossa vida recente, os Gês se multiplicaram.

Senão vejamos uma pequena lista introdutória:

  1. Há o G-8, atualmente em reunião: Itália (anfitriã), Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Japão, Reino Unido (também conhecido como Grã-Bretanha ou simplesmente, ainda que não de modo correto, Inglaterra) e Rússia. O grupo já foi G-6, depois G-7 e com a inclusão da Rússia virou o atual G-8. Como se reúne regularmente com cinco convidados especiais (China, Índia, México, África do Sul e Brasil), já foi chamado de G-8 + 5. Também poderá ser chamado de G-14, se incluir o Egito entre esses convidados. E a União Européia tem assento simbólico nas reuniões.
  2. O Brasil também atua no G-21, também conhecido como G-20, G-27, ou simplesmente 20+, grupo de presença marcante na Organização Mundial do Comércio (OMC), reunindo atualmente 23 países chamados de “emergentes” (antigamente, “subdesenvolvidos”). Esse grupo é liderado pelo G-4: Brasil, China, Índia e África do Sul.
  3. Depois há o G-20, este que hoje o Brasil diz privilegiar como fórum para discutir a crise financeira. Este G-20, originalmente, é uma reunião dos ministros da área financeira (como no caso brasileiro, Fazenda e Planejamento) e dos presidentes de bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais os representantes da União Européia.
  4. Além disso, ganhou importância nos últimos anos o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), expressão criada dentro do grupo financeiro norte-americano Goldman Sachs para designar as grandes economias que vêm crescendo mais rapidamente no mundo. Os críticos desse conceito argumentam que o Bric, sem a China, é um algo como apenas a casquinha do siri no prato, sem o recheio.

Entre tantos Gês, por que o G-20?

Na argumentação brasileira, é o Fórum que reúne as economias atualmente mais “robustas” do mundo com aquelas que têm condições, de alguma forma, de influenciar em decisões de escala global. Além disso, é um fórum primariamente de nível ministerial, onde decisões, de fato, são tomadas. Os fóruns de mandatários em geral resvalam para as grandes declarações de metas e princípios.

Além disso o G-20 é o escalão intermediário onde os muitos Gês do mundo podem se articular: é o meio do campo, por assim dizer, ou o corredor entre a porta da frente e a porta dos fundos das economias mundiais, numa linguagem meio bruta mas realista. E onde o Brasil, como liderança em todos os fóruns (até no G-8, onde continua exercendo a tarefa de “porta-voz das nações emergentes”), pode exercer algum papel mais relevante, talvez. Já os críticos argumentam que no G-20, ou onde for, quem conta mesmo é o G-8, e que o Brasil deveria buscar a articulação de outros fóruns, ao invés de simplesmente carimbar as decisões dos representantes das maiores economias.

O debate está lançado.