Lula em Berlim: ‘eu não podia errar…’

O jornalista entrevista Lula em Berlim. Legado da administração admirado na Europa, mas combatido pela direita do Brasil (arquivo pessoal) Foi uma festa. Uma não, duas. Uma no Congresso do […]

O jornalista entrevista Lula em Berlim. Legado da administração admirado na Europa, mas combatido pela direita do Brasil (arquivo pessoal)

Foi uma festa. Uma não, duas. Uma no Congresso do IG Metall, na sexta-feira (7) pela manhã. E outra no auditório da Fundação Friedrich Ebert, no começo da tarde. Foram as duas atividades públicas do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva em Berlim, antes de seguir para a França, onde participa, terça e quarta-feiras (11 e 12), do seminário “Forum for Social Progress”, com a presidenta Dilma Rousseff e o presidente François Hollande, além do ministro Guido Mantega e do ex-primeiro-ministro francês Lionel Jospin.

Lula mostrou estar em plena forma. Continua mostrando uma de suas características principais, que é a de imediatamente se sintonizar com a platéia. No Congresso do Sindicato (o dos Metalúrgicos alemães) Lula fez uma fala mais extensa (mais de uma hora), vibrante, sendo aplaudido muitas vezes, e ao final, de pé.

Começou lembrando dos tempos de sua formação como líder sindical, tempo de prisões e arbitrariedades nas greves no ABCD paulista, aquelas que marcaram o começo do fim (embora longo) da ditadura militar no Brasil. Agradeceu a solidariedade recebida dos trabalhadores alemães e suecos. Depois enveredou pelo aprendizado das campanhas, das sucessivas derrotas, até a eleição vitoriosa em 2002.

Nesse ponto lembrou (ovacionado) de seu sentimento de que, como presidente-metalúrgico, não poderia errar. “Um presidente saído da elite”, disse ele, “pode errar. Pode não fazer nada. Depois sai, vai dar aulas em Paris, fazer pós-graduação em Berlim, e volta em dois anos, como se nada tivesse acontecido. Eu não podia. Se eu errasse, o Brasil ia levar mais duzentos anos para eleger outro metalúrgico como presidente”.

Bem – continuou lembrando –, ele apostou em por as contas do Brasil em dia, pagar a dívida com FMI, manter baixa a inflação, levantar a credibilidade brasileira no exterior, diminuir a pobreza e a desiguldade. “Deu certo”, arrematou.

A partir daí (estou fazendo um resumo muito resumido) Lula analisou a crise financeira mundial e europeia, assinalando que não foram os trabalhadores que a criaram, mas que agora querem que sejam eles a pagar por ela. Conclamou os metalúrgicos e demais trabalhadores europeus a não abrir mão de suas conquistas sociais, a manter a solidariedade internacional, e a não permitir que a crise ponha em perigo a União Europeia – esse “patrimônio da humanidade”, definiu ele.

A conclusão de sua fala foi reservada para uma prolongada análise da falta de uma governança mundial mais robusta, devido ao anacronismo de órgãos internacionais como o Conselho de Segurança da ONU, moldado ainda pelos tempos em que “Churchill, Roosevelt e Stalin se reuniam ao redor de uma mesa e decidiam como ia ser o mundo”. Lembrou que nas sucessivas reuniões do G-20 foram tomadas resoluções importantíssimas, como a necessidade de controlar o setor financeiro, mas que nada disso foi adiante, por falta de implementação. Quando terminou, além do aplauso prolongado, Lula recebeu um “Lula lá”, por parte dos brasileiros presentes, acompanhados por muitos outros delegados também.

Já na Fundação Friedrich Ebert, onde foi saudado por seu presidente, Roland Schmidt, Lula participou de um debate com Frank-Walter Steinmeier, líder do Partido Social Democrata (SPD) no Bundestag, e Burkhard Birke, da Deutschland Radiokultur (Rádio Cultura).

Além das pessoas ligadas diretamente à Fundação, fãs, brasileiros, jornalistas, e outros interessados, estavam presentes muitos jovens estudantes alemães, inclusive de língua portuguesa. A conexão foi imediata. Abordando alguns dos temas que abordara no IG Metall, Lula foi muito mais descontraído, literalmente encantando a plateia com suas tiradas: “aí eu disse pro Obama: pô, cara, como é que você me diz isso?” Seus ouvintes se esmeravam em aplausos… Mas não se pense que se tratou da simples apresentação de um “show-man” da política.

O tema mais abordado foi o das relações internacionais, quando Lula rememorou seu esforço bem sucedido para conseguir um acordo com o governo do Irã sobre a questão nuclear (junto com a Turquia) e a reação decepcionante que se seguiu, por parte das potências ocidentais. “Parecia até ciumeira”, lembrou.

Houve também protestos e reivindicações – não contra ele, Lula – mas manifestando preocupação com possíveis violações de direitos humanos no Brasil por causa das obras para a Copa do Mundo. Membros da “Mesa Redonda Brasil 2012” levaram para a reunião uma carta com 60 assinaturas dirigida pessoalmente ao ex-presidente pedindo sua atenção para o Dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil, também entregue na ocasião. Os documentos acabaram sendo entregues aos assessores do ex-presidente.

De todo modo, a visita de Lula a Berlim foi um sucesso. E mostrou a inutilidade da campanha de descrédito que move contra ele a nossa direita – parecendo ainda rancorosa pela frustrada investida para derrotá-lo na eleição de 2006, senão a de 2002…

De quebra, o ex-presidente Lula concedeu uma entrevista exclusiva a esse jornalista, repórter da TVT e da RBA

 

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