eleições 2018

Diferentes estratégias para o segundo turno

Enquanto a nossa mídia tradicional faz vista grossa para o risco à democracia, é preciso manter um fluxo de informação constante com o mundo, que cada vez mais repudia as propostas de Bolsonaro

Ricardo Stuckert//EBC

Haddad apresenta propostas e quer debater. Bolsonaro cresce por meio de fake news em redes sociais

O mundo todo está à beira de uma ataque de nervos por causa do Brasil. Foram dezenas e dezenas – nesta altura mais do que 50 mídias  – que publicaram artigos, editoriais, manchetes sobre o risco que a democracia corre no Brasil, com a possível eleição de Jair Bolsonarocomo Presidente da República no dia 28 de outubro.

Enquanto isto a nossa mídia tradicional faz vista grossa para o risco e também diversos políticos e partidos se recusam a reconhecer o abismo para onde podem estar  ajudando a nos empurrar. Alguns destes apoiam Bolsonaro, uns por convicção, outros por oportunismo; ainda outros lavam as mãos e os pés diante do que possa acontecer. FHC deu mostras de que talvez viesse a preferir Haddad, mas recuou. E seu partido, como soe acontecer, ficou em cima do muro. Dali donde nada se espera é que não sai nada mesmo, dizia o Barão de Itararé.

Por seu lado, a estratégia bolsonarista estes muito clara. Enquanto mantém o tom mais duro para seus correligionários mais exaltados, inclusive lavando as mãos para a violência agora cometida cotidianamente em nome de sua candidatura, o ex-capitão procura apresentar-se mais manso para o “público externo”, inclusive a Rede Globo, onde prestou juras de amor à Constituição.

Ao mesmo tempo, esta sua militância mais exaltada começa a percorrer as ruas cometendo violências de todos os tipos contra o “inimigo interno”: adversários políticos, gays e lésbicas, jornalistas democratas, defensores dos direitos humanos etc., numa política de intimidação estimulada pela sensação que têm de empoderamento, autorização e impunidade.

Até o momento, grande parte das autoridades – que deveriam ser competentes para coibir este tipo de ação predatória em relação à democracia – nada faz. Isto vai continuar e se aprofundar até o dia 28 e depois, seja qual for o resultado do segundo turno.

Prossegue e se aprofunda a produção maciça de fake news e vídeos mentirosos visando desmoralizar Haddad, Manuela, o PT e quem apoiar esta candidatura. É uma indústria profissionalmente gerida e dirigida. Tem know-how importado dos Estados Unidos e empreendimentos internacionais craques no assunto.

A campanha de Haddad e Manuela propõe:

– Diferenciar os programas, o que é acertado, pois além dos atentados (por ora verbais) à democracia, a candidatura Bolsonaro/Mourão oferece um cardápio que ameaça destruir o que sobrar de direitos populares, depois da depredação já levada a cabo por Temer e seu time.

– Falar mais de Haddad e menos de Bolsonaro (sem esquecer a crítica ao estilo de sua campanha e suas propostas), o que também está certo. Isto pode ajudar a captar votos que, no primeiro turno, foram brancos ou nulos, ou aqueles que deixaram de comparecer por acharem que na política “é tudo igual”.

A transferência de intenções de voto de Lula para Haddad/Manuela já se deu e será mantida. Agora cabe a Haddad/Manuela confirmarem que têm luz própria e que terão sua própria política.

– Combater mais eficazmente do que no primeiro turno a indústria das fake news e mentiras que circulam nas redes e no WhatsApp. Isto é absolutamente  necessário pois, apesar de declarações altissonantes de combate a elas por parte de autoridades togadas, a ação destas, quando há, é lenta e a posteriori.

Além disto, será necessário:

– Estimular cuidados com a própria segurança por parte dos militantes pró Haddad/Manuela, sem partirem para a provocação ou também o uso da violência: não andar sozinhos, evitar locais ermos e coisas deste tipo.

– Ampliar e consolidar a frente anti-fascista para além do dia 28, seja qual for o resultado. Vamos precisar dela se Haddad/Manuela vencerem ou se perderem. A violência e a intolerância irão aumentar e se intensificar, tanto no caso de vitória, quanto no de derrota do autoritarismo.

– Manter um fluxo de informação constante com o exterior. O mundo da informação internacional repudia cada vez mais as propostas do grupo de Bolsonaro/Mourão, mas só um fluxo constante de informações poderia manter este estado de alerta, sobretudo diante da aparente “normalidade” que nossa mídia mainstream tentaria manter de pé no caso da vitória da direita.

A esperança é a última que morre. Neste caso, ela teria de sobreviver até a uma eventual derrota no dia 28.