China x Japão: por um punhado de rochas

Senkaku, formada por cinco ilhotas e três rochedos (Foto: IISSVoices) Enquanto a temperatura continua fervendo no Sahara, com a contagem dos mortos devido ao ataque terrorista e a brutal repressão do […]

Senkaku, formada por cinco ilhotas e três rochedos (Foto: IISSVoices)

Enquanto a temperatura continua fervendo no Sahara, com a contagem dos mortos devido ao ataque terrorista e a brutal repressão do exército argelino de um lado, e os enfrentamentos entre o exército francês, apoiado pela aviação, e os grupos ligados ou à AlQaeda ou dela derivados no norte do Mali, em outro ponto do globo a temperatura também começou a subir para níveis perigosos. Que outro ponto? As ilhas Diaoyu, como as chamam os chineses, ou Senkaku, como são chamadas pelos japoneses.

São cinco ilhotas pequenas e três rochedos (como o Atol das Rocas, no Brasil), desertos em termos de vida humana, povoadas elas por aves e algumas espécies agrestes, como bodes domésticos que se “aculturaram” na ilha, toupeiras, e uma rala vegetação. Ficam a leste da China Continental, ao sul do Japão (perto da ilha de Okinawa) e ao norte da China Nacionalista ou Taiwan ou ainda Formosa.

Seu valor econômico, no momento, é próximo do zero, embora tenham sido detectadas reservas de petróleo e gás nas proximidades. Mas seu valor histórico e como contencioso é enorme.

Três países as disputam: os três mencionados dois parágrafos acima. A República Popular da China reconhece inclusive que as ilhas pertenceriam ao território da ilha de Taiwan, mas como não reconhecem a “outra” China, reivindicam desde já o arquipélago para seu território. Durante séculos o Império Chinês considerou as ilhas como território seu, mas na verdade nada fez de concreto para ocupá-lo.

No final do século XIX o Japão ocupou as ilhotas, mas também nada fez para povoá-las, a não ser promover visitas oficiais de militares e cientistas. Em 1945 os Estados Unidos assumiram a sua administração, mas a devolveram ao Japão em 1971.

Agora a R. P. da China resolveu disputar as ilhas – por seu valor militar. Através daquela região a Marinha Chinesa pode ter acesso direto ao Pacífico. Se as ilhas permanecerem com o Japão, este acesso seria fatalmente detectado e controlado pela Marinha Japonesa. Por seu lado o governo de Taiwan, se reivindica as ilhas, pelo menos no momento não tem capacidade militar para se aventurar em meio à disputa dos outros dois contendores.

Inicialmente, a disputa foi retórica. Entretanto, com o novo governo, conservador e nacionalista, de Shinzo Abe no Japão, vitorioso em 26 de dezembro do ano passado, a retórica começou a subir. Da retórica, passou-se à ação. A China enviou aviões desarmados, de observação; o Japão enviou uma esquadrilha de caças. A China enviou outra, em retaliação. Criou-se, na semana passada, aquela situação em que um descuido, um dedo no botão errado, pode deflagrar um enfrentamento de proporções indefinidas.

Os Estados Unidos estão numa situação particularmente complicada: de um lado, o Japão, de inimigo até 45, passou a aliado preferencial; do outro, não há o menor interesse num conflito, mesmo que indireto, com a China no momento, que é adversária e parceira econômica simultaneamente. Tudo o que Washington tem feito até o momento é recomendar moderação aos dois lados.

Analistas ocidentais afirmam que a China usa as ilhas para distrair a atenção em relação aos seus problemas internos, como as acusações de corrupção e o crescimento das desigualdades internas. Mas o mesmo pode-se dizer do novo governo japonês, que assumiu em meio a um contínuo deslizamento para baixo da economia japonesa, tendência que se mantém há anos e que está enfraquecendo o seu poderio na região e no mundo.

A disputa vai continuar. Tudo o que se pode esperar é uma confiança nas palavras do ex-homem forte do Partido Comunista Chinês, Den Xiaoping. Ele foi o principal negociador, do lado chinês, do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, que acabou se efetivando apenas em 1972, 27 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Na ocasião, sobre a questão das ilhas, Xiaoping afirmou que a questão ficaria para ser resolvida através de negociações para as futuras gerações, que, disse ele, “seriam mais sábias do que a nossa”. Esperemos que sim, embora a atual geração não pareça ter dado ouvidos às suas palavras.

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