Brasil é homenageado na Feira de Livros de Frankfurt

Frankfurt Book Fair / Fernando Baptista Na terça-feira (8), realizou-se a cerimônia de abertura da Feira de Livros de Frankfurt, com o Brasil como país homenageado, com direito a pavilhão […]

Frankfurt Book Fair / Fernando Baptista

Na terça-feira (8), realizou-se a cerimônia de abertura da Feira de Livros de Frankfurt, com o Brasil como país homenageado, com direito a pavilhão próprio e uma exposição especial.

A feira é gigantesca. Abriga vários pavilhões, cada um deles podendo conter facilmente uma Bienal do Livro de Rio ou de S. Paulo. É uma feira feita especialmente para “business”. As atividades, com mesas de debate, seminários, sobre uma variedade enorme de temas, começam hoje (9). Até amanhã, comparecem apenas escritores (cerca de 1.500 são esperados este ano), editores, livreiros e agentes literários – e a mídia.

No sábado e no domingo a feira é aberta ao público. Paga-se ingresso (17 euros para um adulto). Espera-se a presença de entre 250 e 300 mil visitantes no fim de semana.

A abertura foi concorridíssima, com o auditório enorme completamente lotado. Houve os discursos protocolares de boas vindas, por Gottfried (Presidente da Associação de Editores e Livreiros da Alemanha), Jürgen Boos (Diretor da Feira), Peter Feldmann (prefeito de Frankfurt) e Volker Bouffier (primeiro-ministro do Estado de Hesse).

De um modo geral, todos relataram um dos temas principais da feira deste ano, qual seja, o destino do livro na era digital e virtual. Ninguém se referiu ao cediço tema do “fim do livro”, mas sim ao discernimento das diferenças que este novo contexto traz para a escrita, edição, distribuição de livros e para o próprio gesto da leitura.

Outro tema privilegiado nesta edição do evento é a situação da infância e da juventude, não apenas em relação à leitura e aos livros, mas também frente aos desafios da violência, da guerra e do desemprego.

A seguir falaram o escritor Luiz Ruffatto, representando o grupo de escritores brasileiros convidados, e a escritora Ana Maria Machado, presidenta da Academia Brasileira de Livros. Ruffatto fez um discurso-denúncia sobre as condições históricas de precariedade da situação do escritor no Brasil e também sobre as precariedades de nossa vida social, cultural, política e econômica, dadas as desigualdades e o autoritarismo que tradicionalmente marcaram a história  brasileira.

Assinalou algumas melhoras em nosso país nos últimos anos, mas deixou claro que elas ainda não são suficientes para dizer-se que o país tenha “dobrado a esquina”, deixando para trás aqueles problemas. Centrou seu discurso na necessidade de reconhecer-se a “alteridade” sem abafá-la, e na necessidade de encarar a literatura como capaz de mudar os seres humanos, e portanto a sociedade. Foi muito aplaudido ao final.

Ana Maria Machado ressaltou a diversidade da cultura brasileira, e a dificuldade do Brasil em ser reconhecido como um “país também literário, de livros”, para além das imagens estereotipadas de praias, futebol, corpos bronzeados etc. Deixou no ar o convite para que o público descubra aquela diversidade através do contato com a nossa literatura.

Pelo governo alemão falou o Ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle.  Deu a nota política do encontro. Falando também da riqueza da literatura e da cultura brasileiras, elogiando o empenho de Ruffatto, e ressaltando que os contatos Brasil-Alemanha devam ir além dos apenas econômicos ou diplomáticos, o Ministro ressaltou a necessidade de as instituições políticas internacionais de hoje se adequarem ao presente, e deixarem de ser apenas reflexos do passado, fazendo a seguir uma alusão direta ao empenho brasileiro pela reforma do Conselho de Segurança da ONU.

Elogiou o discurso da presidenta Dilma Rousseff na abertura da Assembleia Geral da ONU, pedindo um novo marco regulatório das atividades e controle através e da internet, ressaltando que este também é o interesse da Alemanha. Assinalou que nem tudo o que é tecnicamente possível no espaço virtual é necessariamente legítimo, numa alusão às táticas de espionagem denunciadas recentemente por Edward Snowden e Glenn Greenwald.

Encerrou a abertura o Vice-Presidente Michel Temer, que evocou o 25º aniversário da Constituição Brasileira, e ressaltou as conquistas sociais e educacionais de programas como o Bolsa-Família, Pró-Uni e outros do governo brasileiro, além de enaltecer a “Constituição Cidadã” do Brasil.

Deu um toque pessoal ao fim, falando que devia o hábito da leitura à sua professora primária, e que, apesar de jurista de formação, publicou recentemente um livro de poemas que, “se não recebeu elogios, também não recebeu críticas”. Quando terminou seu discurso, um grupo pequeno de brasileiros, sentados ao fundo, ensaiou uma vaia. Os alemães não devem ter entendido nada.