As oposições no Iemen

Manifestantes no Iêmen, pela saída do presidente Saleh (Foto: Ammar Awad/Reuters) Vamos continuar nosso ‘tour’ pelas oposições ao dominó autoritário montado pelas potências do Ocidente, décadas atrás, como um “muro […]

Manifestantes no Iêmen, pela saída do presidente Saleh (Foto: Ammar Awad/Reuters)

Vamos continuar nosso ‘tour’ pelas oposições ao dominó autoritário montado pelas potências do Ocidente, décadas atrás, como um “muro protetor” no mundo árabe e em torno de seus interesses territoriais e petrolíferos. Dessa vez, vamos ao Iemen.

A população do país é estimada entre 25 e 28 milhões de habitantes. Não é um grande produtor de petróleo, mas tem reservas significativas. A produção vem caindo, o que explica parte do empobrecimento da população. A taxa de desemprego vai a 35%, fato que, sem dúvida, como em outros países da reguão ajuda a entender o atual clima de revolta.

Há 32 anos o Iemen é dirigido pelo “presidente” Ali Abdullah Saleh, que prometeu deixar o poder em 2013, mas vem tentando nele permanecer através de concessões, como a de dissolver o gabinete governamental (20 de março) e propor um novo, de que a oposição parlamentar participaria (proposta até aqui rejeitada).

Saleh seguiu uma trajetória errática, aproximando-se por vezes de Saddam Hussein, mas mantendo um vínculo explícito com o Ocidente, recebendo 300 milhões de dólares dos EUA em ajuda militar por ano, para contrabalançar o que Washington considera o “perigo terrorista”, graças à alegada presença de unidades da Al Qaeda no país e a militância de Abdul Majeed al-Zindani, declarado terrorista e incentivador de movimentos radicais islâmicos.

Há uma frente partidária das oposições (em inglês, Joint Meeting Parties), que dispõe de cadeiras no parlamento nacional. Além disso, as manifestações provocaram uma divisão nas Forças Armadas, cujo principal dissidente é o General Ali Mohsen Saleh, comandante da região militar do noroeste do país. Com ele se alinham diversos outros oficiais superiores com cargos de comando.

Como na Líbia, diplomatas iemenitas abandonaram suas funções, deixando o governo.

Há grupos de ativistas de direitos humanos envolvidos nas manifestações, cuja principal figura é a jornalista Tawakul (ou Tawakel) Karman, fundadora de uma ONG de mulheres do seu setor profissional.

As manifestações têm sido lideradas e engrossadas por grupos estudantis, tendo como alvo denúncias de corrupção e revindicações do fim do governo de Abdullah Saleh.

Além disso, há movimentos rebeldes no norte do país (junto à fronteira com a Arábia Saudita) e também movimentos separatistas ao sul, da etnia Houthi, que já estiveram em guerra com o governo central.

Em suma, as oposições são uma colcha de retalhos, cujas diferenças garantiram o espaço de manobra necessário e suficiente para Abdullah Saleh manejar sua permanência no poder durante mais de três décadas. Agora o caldo entornou, pelo agravamento da situação social e as denúncias de corrupção.

Mas isso não garante que as oposições venham a se unificar, e o destino do Iemen, por ora, permanece incerto, dependendo também da evolução da situação de outros países, como a Arábia Saudita (se é que nesta haverá alguma evolução) e da política das potências ocidentais para a região, que afirmaram seu propósito de manterem a hegemonia na região – ainda que com contestações significativas, embora apenas cautelares, de Rússia, China, Brasil, Alemanha e outros países.