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Na Escócia, a vitória do ‘não’ foi imposta pelo Reino Unido com base no medo e na ameaça

Nas urnas, o 'não' somou 2.001.926 de votos, contra 1.617.989 do 'sim', uma vantagem de 55,3% contra 44,7%

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O primeiro ministro escocês, Alex Salmond, afirmou que irá renunciar ao cargo em novembro

O correspondente internacional da RBA na Europa, Flavio Aguiar, analisa que o resultado do plebiscito que definiu ontem (18) pela não independência da Escócia do Reino Unido foi a vitória da Inglaterra imposta pelo medo e pela ameaça. “Foi uma vitória apertada, o ‘não’ ganhou, entretanto, os problemas levantados pelo separatismo continuam de pé”, afirmou nesta sexta-feira, em comentário na Rádio Brasil Atual.

Nas urnas, o “não” somou 2.001.926 de votos, contra 1.617.989 do “sim”, uma vantagem de 55,3% contra 44,7%. A apuração, concluída nesta manhã, foi feita em 32 regiões administrativas escocesas. Foram dois anos de campanha pela autonomia da Escócia, liderada pelo primeiro ministro escocês, Alex Salmond, que após os resultados afirmou que irá renunciar ao cargo em novembro.

“Apesar das promessas de mais autonomia feitas pelo governo britânico para convencer os cidadãos a votarem pelo não, foi uma vitória de ameaças. Os bancos e empresários escoceses disseram que iriam para a Inglaterra”, destacou Flavio Aguiar. Para ele, as implicações que a Escócia teria de enfrentar com a autonomia, como não poder mais utilizar a libra como moeda e ter que criar uma nova, seria um processo de alto custo e inflacionário.

Além disso, o país teria de fazer um novo plebiscito para decidir qual seria o regime de governo e, mesmo com a separação, a rainha Elizabeth II continuaria sendo rainha da Escócia. No entanto, segundo o comentarista, o movimento separatista vai continuar existindo e um novo plebiscito pode ocorrer. “Então, não houve uma vitória positiva do Reino Unido, houve sim uma derrota negativa da proposta de independência da Escócia”, disse.

Satisfeito com o resultado, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, afirmou que vai cumprir as promessas de conceder maior autonomia ao parlamento escocês.

Ucrânia

Com relação à Ucrânia, que vive em conflito há dez meses entre separatistas pró-Rússia e o governo de Kiev, Flavio Aguiar pontuou que duas resoluções “muito importantes” melhoraram a situação da crise. “A Ucrânia teve um compasso de espera mais positivo do que das outras vezes. Nesta semana o Parlamento em Kiev anunciou maior aproximação com a União Europeia e aprovou, na terça-feira, uma lei que garante uma grande autonomia para províncias do leste”, explicou.

A lei já havia sido aprovada anteriormente, mas o então chefe de estado, Viktor Yanukovitch, recuou. Este recuo levou às revoltas da praça Maidan, que terminaram por derrubá-lo do governo.

A segunda resolução que concede maior autonomia às províncias separatistas do leste do país permite que elas mantenham uma aproximação com a Rússia e continuem usando o russo como idioma oficial, além do ucraniano. “O governo de Kiev não tinha outra alternativa, porque uma solução militar está fora de questão. Kiev, nos últimos dias, teve uma série de derrotas no plano militar”, observou Flavio Aguiar.

Ele disse que o governo foi forçado a fazer negociações, mas ainda é preciso resolver os confrontos dos dissidentes radicais de ambos os lados. Do lado separatista, os dissidentes têm violado as tréguas. Do lado do governo de Kiev, são grupos que avaliam nas tréguas momentos para se reorganizarem e se rearmarem.

“Esses batalhões que apoiam Kiev são chamados de voluntários. São, na verdade, grupos neofascistas que têm programas terríveis de limpeza étnica, são antissemitas e homofóbicos”, afirmou. Neste quadro de violência, Aguiar considera que esta semana há um avanço na resolução da crise.

Desde que começou, o conflito já deixou quase 3 mil mortos e ainda 350 mil refugiados.

Ouça o comentário completo na Rádio Brasil Atual: