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Estado Islâmico sofre reveses e busca novas ações para se valorizar na Síria

Na ONU, a representante dos EUA criticou Damasco, Moscou e Teerã pelos bombardeios, mas estes alegaram estar respondendo a ataques por parte dos próprios rebeldes

Freedom House/FLICKR CC

Exército Sírio está estabelecendo seu controle total sobre a cidade de Aleppo, estratégica para os militares

O Exército Sírio, auxiliado por tropas do Irã, dos curdos e pelos ataques aéreos dos russos, está estabelecendo seu controle total sobre a cidade de Aleppo, estratégica do ponto de vista militar (comunicações e transporte) e simbólico.

Agora só restarão duas cidades de porte em mãos de adversários. A primeira é Idlib, em poder do grupo Jabaht Fateh al-Scham, ex-Frente Al-Nusra, condenado terrorista por todas as outras facções em luta. Outra é Raqqa, em poder do Estado Islâmico, que a considera a capital do seu califado. A cidade histórica de Palmira caiu em poder do E. I. novamente, mas tem um valor mais simbólico do que qualquer outro. É considerada patrimônio histórico da humanidade pela Unesco, e é isto que o E. I. quer destruir. Além disso, como o E. I. vem sofrendo uma série de reveses na Síria e no Iraque, precisa de ações simbólicas para se valorizar entre seus fãs.

As informações ainda são contraditórias. A Rússia e a Turquia anunciaram um acordo com os rebeldes – na maioria também da al-Scham – para que eles evacuassem a cidade, mais os civis que quisessem abandoná-la. As forças de Damasco e do Irã, entretanto, alegaram que não foram consultadas, continuando os bombardeios sobre as posições dos rebeldes. Na ONU, a representante dos EUA criticou Damasco, Moscou e Teerã pelos bombardeios, mas estes alegaram estar respondendo a ataques por parte dos próprios rebeldes.

A guerra está longe do fim, é certo. Grupos rebeldes mantêm posições na periferia de grandes cidades e em áreas rurais. Mas o seu desenho mudou. Estes partirão provavelmente para uma guerra de guerrilhas e ataques contra militares e civis nas cidades. Haverá em breve uma grande ofensiva para retomar Raqqa, talvez, Palmira.

Apesar de estar longe de uma vitória, a posição do regime de Assad se fortaleceu, bem como a dos russos e do Irã. Ficam enfraquecidas as posições dos EUA e seus aliados, e da Arábia Saudita. A Turquia fica em suspenso. Inimiga de Assad, corteja hoje os russos, ataca os curdos, que têm o apoio de Moscou e de Washington. Mas precisa dos curdos em Mosul, no Iraque, contra o Estado Islâmico. No momento, embora o governo de Tayyip Erdogan se fortaleça com mão de ferro na repressão interna, depois do golpe de estado que tentou depô-lo, a Turquia parece ser o elo mais frágil nesta cadeia de alianças e contra-alianças que martiriza a população síria.

Uma coisa é certa: as potências ocidentais, EUA à frente, se enganaram redondamente ao considerar que o regime de Bashar al-Assad cairia facilmente, como caiu o de Muhammad Gaddafi na Líbia.  A defesa deste era baseada em mercenários, enquanto a daquele conta com um Exército coeso e poderoso regionalmente, além de contar com o apoio russo e iraniano. Gaddafi estava longe disto, depois de cortejar, inutilmente, o Ocidente, em busca de um apoio que, além de lhe custar o regime, custou-lhe a vida.