barril de pólvora

Na Alemanha, suspeito de terrorismo preso se suicida e amplia polêmica sobre refugiados

Extrema-direita pede endurecimento das políticas em relação aos refugiados e até fechamento das fronteiras. Do outro lado, argumentos são considerados xenófobos e racistas, além de pouco práticos

polizei-sachzen/dw/divulgação

Jaber Al-Bakr, preso e acusado de planejar ataque terrorista. Exaltada, Alemanha volta a debater questão dos refugiados

Jaber Al-Bakr, cidadão sírio, preso e acusado de planejar um ataque terrorista, suicidou-se na prisão, ontem (12), deixando uma esteira de estupefação atrás de si, que se espalha pela Alemanha. Jaber, de 22 anos, foi preso depois de uma verdadeira caçada promovida pela polícia do estado da Saxônia durante 48 horas.

A casa do suspeito, na cidade de Chemnitz, no mesmo estado, fora invadida pelos policiais, que encontraram material explosivo em quantidade suficiente para provocar danos de monta e vítimas fatais. Jaber, no entanto, conseguiu fugir, furando o cerco policial. A polícia evacuou as casas vizinhas e detonou os explosivos num fosso cavado no local, considerando o material perigoso demais para transportá-lo.

Na vizinha cidade de Leipzig, na segunda-feira (10) ele pediu abrigo para dormir a três outros cidadãos sírios que, como ele, tinham chegado como refugiados à Alemanha. Os três o reconheceram e, quando chegaram à casa onde estavam, detiveram o suspeito e chamaram a polícia, que o deteve, levando-o para uma prisão considerada de segurança máxima

Jaber foi mantido incomunicável e com vigilância constante. Entretanto, na noite de quarta-feira, por volta das 20h15, ele foi encontrado morto, dentro da cela. Segundo informes, os carcereiros ainda tentaram reanimá-lo, sem resultado. Hoje pela manhã, as autoridades da Saxônia – incluindo o ministro do Interior da província – deram uma entrevista coletiva para explicar o caso. Segundo relataram, o prisioneiro era checado a cada quinze minutos e não dera sinais de tendências suicidas. O caso é complicado porque, segundo as informações disponíveis, Jaber tencionava fazer um atentado suicida em algum aeroporto do país com o material explosivo de que dispunha.

Outra complicação: anteriormente, ele desmontara (ou quebrara) a lâmpada maior da cela, ficando apenas com uma de cabeceira sobre uma mesa. O caso foi interpretado como “vandalismo” apenas. Além disto, há informações também de que ele iniciara uma greve de fome.

Ainda segundo os carcereiros, Jaber se enforcou com a própria camisa, pendurando-se, com ajuda de um caixote, nas grades da cela.

Num de seus depoimentos anteriores, ele tentou implicar os concidadãos que o prenderam, dizendo que eles sabiam de suas intenções de atacar um aeroporto. A polícia ainda não esclareceu se a informação se confirma ou não.

Houve até quem pedisse a renúncia do ministro do Interior da província que, no entanto, descartou a possibilidade.

O caso todo intensificou mais a polêmica sobre a política do governo alemão em relação aos refugiados sírios. A extrema-direita (agora com o partido Alternative für Deutschland à frente) e mesmo militantes da União Democrata Cristã (partido da chanceler Angela Merkel) pedem uma política mais restringente em relação aos refugiados, senão a sua suspensão pura e simples. Também é o caso do primeiro-ministro da Baviera, Horst Seehofer, que vem sendo apontado por muitos conservadores como um possível sucessor de Merkel.

No dia 3 de outubro, na cidade de Dresden, capital da Saxônia e principal reduto do movimento direitista Pegida, a chanceler e o presidente Joachim Gauck foram hostilizados durante a cerimônia de comemoração do dia da reunificação alemã, por militantes do Pegida, do AfD e de outras organizações direitistas contrários à vinda dos refugiados.

O Ministério do Interior federal divulgou a informação de que entre janeiro e o final de setembro deste ano entraram 213 mil refugiados no país, na grande maioria provenientes da Síria. No mesmo período, no ano passado, este número era bem maior: quase 600 mil.

Os contrários a esta abertura alegam que os muçulmanos não fazem parte da “cultura europeia”. Já os defensores, além de refutarem este argumento como xenófobo e até racista, alegam motivos humanitários e práticos, pois, dizem, sem este influxo dos imigrantes (na maioria os refugiados que vêem da Síria, do Afeganistão e de outros países, estão entre os quinze e os trinta e cinco anos), em vinte anos a Alemanha vai enfrentar sérias dificuldades econômicas devido ao alto percentual de idosos e aposentados.