Reinventando Lula

(Foto: Ricardo Stuckert/PR) Lá fora, no mundo velho sem porteira, existe um Lula. É um ex-pobre e ex-sindicalista brasileiro, que lutou pelos direitos dos trabalhadores no seu sindicato e daí […]

(Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Lá fora, no mundo velho sem porteira, existe um Lula.

É um ex-pobre e ex-sindicalista brasileiro, que lutou pelos direitos dos trabalhadores no seu sindicato e daí traçou uma trajetória política admirável, sem evitar contradições, até se tornar uma referência mundial. Claro que existem contestações, mas previsíveis, como as do artigo do escritor direital Mario Vargas Llosa, hoje (07/03/10) no Estadão, criticando a proximidade de Lula com Fidel e Cuba.

Mas aqui no Brasil, mundo velho e cheio de porteiras, sobretudo na mídia convencional, existe um outro Lula. Que a cada passo é reinventado.

Vejamos. No começo, quando se candidatou e assumiu depois a Presidência da República, Lula, para o establishment conservador da mídia, era o grosso, o inculto, o deseducado, o grotesco, o informe, o homem que não só não falava qualquer língua estrangeira (para essa mídia, = civilizada), mas que falava “menas”, etc. Lula, o tosco, Lula, o que dá vergonha ter como presidente, etc.

Bom, esse Lula teve de ser remetido às gavetas, porque o presidente Lula é um fato, e um fato cheio de futuro. Ao contrário de FHC, que tinha tudo para ser um líder internacional, mas preferiu ficar preso à política paroquial paulista, tentando remendar seu futuro verbete na enciclopéda da história, de prefácio ‘a “Era Lula”, Lula pode se lançar neste cenário mundial, a projetar politicamente  o Brasil como ninguém fez, desde Pedro II, Vargas, Oswaldo Aranha, JK.

Então a direita se sente na obrigação de inventar o novo Lula, como no encontro promovido na semana passada pelo Instituto Millenium, em São Paulo. É o “Lula bonapartista”, o que evitou que o governo federal se tornasse um apêndice do PT, mas por seu viés autoritário e personalista.

Tudo para dizer que, se Dilma vencer as eleições, o governo se tornará autoritário, stalinista, etc. Neste afã, as novas direitas apregoam que Dilma será submissa ao PT. Esquecem, por conveniência, que foi ela (junto com Marco Aurélio Garcia e Tarso Genro) que tirou a Casa Civil do atoleiro em que se metera.

Em resumo, podem inventar quantos Lulas quiserem. Ele continuará a ser o sucesso internacional que é, e Dilma irá nessa esteira para encontar seu próprio caminho.

Porque a direita perdeu o seu.