Aécio dá ‘videocassetadas’ em economia para declarar submissão ao FMI

Orlando Brito / PSDB Bastou o Fundo Monetário Internacional (FMI) tecer algumas críticas ortodoxas contrárias à política econômica do governo brasileiro para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ter uma recaída […]

Orlando Brito / PSDB

Bastou o Fundo Monetário Internacional (FMI) tecer algumas críticas ortodoxas contrárias à política econômica do governo brasileiro para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ter uma recaída de submissão ao órgão, como aquelas ocorridas durante o governo FHC. E o senador usou alguns argumentos que foram verdadeiras “videocassetadas” econômicas quando, na quinta-feira passada (24), resolveu comentar publicamente um relatório daquele organismo financeiro, sabidamente a serviço do neoliberalismo mundial.

“Ao apostarmos no crescimento apenas via consumo, abandonamos aquilo que era fundamental: criar condições para que a oferta aumentasse…”, disse o senador, ignorando o que qualquer comerciante sabe. Afinal, consumo é demanda e é esta demanda que move as forças produtivas para haver oferta.

O bem-vindo aumento do consumo ocorreu pelo aumento da renda dos trabalhadores, inclusão de milhões de brasileiros na classe média, e de outros milhões que saíram da pobreza e passaram a ter condições de consumir mais. Consumo que move toda a cadeia produtiva, desde o varejo até a indústria de base e que cria mais e melhores empregos, o que permite realimentar o consumo, criando um ciclo virtuoso. Simples assim.

O senador continuou em suas patacoadas: “O excesso de intervencionismo do governo tem afastado os investidores”, disse. Mas, oras, foram as políticas anticíclicas contra a crise, chamadas de “intervencionistas”, que garantiram as condições para manter o investimento produtivo.

Para citarmos apenas um exemplo, recentemente as montadoras de carros BMW e Mercedes anunciaram que construirão novas fábricas no Brasil. Também é bendito o “intervencionismo” das políticas industriais que obrigam compras de equipamentos da indústria nacional para exploração do petróleo, para redes de telecomunicações e outros setores. É legítima defesa do desenvolvimento, de empregos e de segurança de suprimentos e conhecimento tecnológico que qualquer país sério pratica.

Também é “intervencionista” o necessário controle de tarifas dos serviços públicos, como eletricidade, pois se isso traz menos lucros aos investidores no setor de geração, com tarifas menores, atrai milhares de investidores produtivos que dependem da eletricidade para produzir seus bens e serviços.

Na verdade, em casos como estes, o “não intervencionismo” na visão ortodoxa, não passa de uma forma de intervencionismo a favor de um dos segmentos econômicos que estão em conflito de interesses. O senador tucano, ao defender que o governo deva “lavar as mãos” no controle sobre tais setores, parece ser porta-voz de um grupo de investidores interessados em ter poderes para fazer sua própria intervenção privada na economia e obter mais lucros, independentemente do interesse público maior e da função social que empreendimentos devem ter.

O senador perpetrou outras “videocassetadas” ao criticar o superávit fiscal brasileiro, que ele acha ser pequeno. O Brasil tem produzido superávits há 10 anos, calibrados o suficiente para reduzir a relação da dívida líquida comparada ao PIB, um dos principais indicadores da saúde financeira das contas públicas de um país.

Se Aécio, em vez de ser subalterno ao FMI, fosse altivo, compararia a situação do Brasil aos Estados Unidos, país que teve um déficit fiscal de 7% só no ano passado. Se esse critério, apesar de importante, fosse determinante, todo investidor fugiria dos EUA para investir no Brasil.

A verdade é que muito do que investidores ligados ao mercado financeiro criticam e reclamam – e são eles que pautam esse tema – tem mais a ver com lobismo para conseguirem mais lucros do que com falta de atratividade para investimentos. É do jogo que eles “puxem a brasa para suas sardinhas”.

O grave é quando um pretendente à presidência da República toma as dores destes “investidores” contra os interesses do povo brasileiro.

As “videocassetadas” de Aécio poderiam ser apenas motivo para risos, entrando para o folclore político nacional, principalmente levando-se em conta que seu currículo ostenta graduação em economia. O problema é que ele e seu entorno tucano público-privado levam tudo isso muito a sério.