Xi, falhou...

As maiores zebras da história das Copas

Confira uma lista com algumas das grandes surpresas dos mundiais

Paul Maritz/Wikimedia Commons

Elas estão chegando ao Brasil…

É um clichê dizer que o futebol é um dos esportes nos quais o inesperado volta e meia dá as caras. São equipes menos técnicas que conseguem superar adversários mais qualificados, times sem tradição que pegam um rival em um mau dia ou aquele detalhezinho que põe toda uma estratégia de jogo a perder.

Em Copas do Mundo, as zebras também costumam pastar. Em algumas vezes, chegam a provocar mudanças brutais nos derrotados, ou causam traumas difíceis de superar. Mas também são responsáveis por dar aquele colorido especial à competição, arrancar aquele sorriso de quem já se dava por derrotado antes de entrar em campos.

Abaixo, algumas das zebras mais marcantes da história das Copas, em ordem cronológica. Claro, há algumas que não estão na lista, e outras tantas que provocam controvérsias quanto serem ou não zebras. Mas o importante é relembrar e já especular a respeito de quais serão as seleções que podem surpreender em 2014.

Certamente, o rol abaixo será atualizado…

 

Cuba 2 x 1 Romênia – 1938

Pode-se considerar que a primeira zebra monumental em mundiais ocorreu na Copa de 1938, disputada na França. A seleção de Cuba era a única equipe da Concacaf presente, e só foi à Copa porque em seu grupo das eliminatórias, Estados Unidos, Colômbia, México, El Salvador, Costa Rica e Guiana (ou seja, todos seus concorrentes) desistiram.

Muito antes de Fidel Castro, os cubanos enfrentaram a Romênia, seleção presente nas duas edições anteriores, e arrancaram um empate em 3 a 3 com uma grande atuação do goleiro Benito Carvajales. Como previa o regulamente à época, houve um jogo desempate e os centro-americanos venceram a Romênia por 2 a 1, passando às quartas de final da competição. Desta vez, o herói da partida foi o reserva de Carvajales, Juan Ayra, que segurou o ataque europeu.

Na peleja seguinte, tudo voltou ao normal, e Cuba foi eliminada da Copa levando uma sova de 8 a 0 da Suécia.

Inglaterra 0 x 1 EUA – 1950

Na Copa realizada no Brasil, um jogo chegou a virar filme dado o grau de surpresa que seu resultado causou. Duelo de Campeões (The Game of Their Lives) narra a façanha da seleção ianque, formada às pressas e como jogadores amadores, no embate contra os inventores do futebol. A seleção inglesa tinha tal empáfia que não havia disputado as edições anteriores por considerar a Copa um torneio de segunda classe.

E o menosprezo inglês diante dos conterrâneos do Tio Sam não era menor, tanto que entraram com um time B, dando o duelo como favas contadas. Porém, o que aconteceu em campo foi algo inesperado. Mesmo com superioridade de posse de bola – relatos dão conta de que os europeus havia feito 30 finalizações só na etapa inicial) – foi a única finalização dos EUA que acabou entrando. Bahr cruzou a bola na área e Gaetjens fez de cabeça. Lá na retaguarda, o goleiro estadunidense Frank Borghi não deixou a bola passar.

Alemanha Ocidental 3 x 2 Hungria – 1954

Hoje parece algo pouco crível que uma vitória da Alemanha sobre qualquer equipe em Copas possa ter sido considerada “zebra”. Mas aquela, da final de 1954, foi. Até por isso, leva a alcunha de “O Milagre de Berna”, igualmente tema de filme. Para se ter uma ideia do poderio do rival dos germânicos naquele 4 de julho de 1954, é preciso destacar que a equipe húngara foi ao Mundial sem perder uma partida desde o dia 14 de maio de 1950. Um currículo de 23 vitórias e quatro empates, com 114 gols a favor e 26 contra. Entre os triunfos, resultados como um 7 a 1 sobre a Inglaterra.

Na primeira fase, as duas equipes já haviam se encontrado e, com uma equipe recheada de reservas, a Alemanha foi derrotada por 8 a 3. O gramado castigado pela chuva atrapalhou o toque de bola e, mesmo com o time húngaro tendo aberto 2 a 0 aos 9 minutos de peleja, veio a virada. Os germânicos conseguiram uma vitória fundamental para forjar, com o futebol, a própria identidade do país, que ainda sofria os efeitos da Segunda Guerra Mundial.

Tchecoslováquia 6 x 1 Argentina – 1958

A seleção da extinta Tchecoslováquia não era uma equipe qualquer. Vice-campeão em 1934, tinha tradição no futebol e queria apagar a má impressão deixada no Mundial de 1954, quando havia sido eliminada ainda na primeira fase. Do outro lado, a Argentina, vice-campeã de 1930 e uma das principais forças de seu continente.

Em tese, a vitória de qualquer um dos lados poderia até ser considerado normal. A zebra deste jogo envolve a ordem de grandeza do placar. Os tchecos derrotaram os argentinos por 6 a 1. “Após a partida, nós nos trancamos em nosso hotel e não queríamos sair, ninguém esquece algo assim. Algumas vezes eles mostram imagens daquele Mundial na TV, mas eu nem quero ver e mudo de canal”, disse à ESPN o goleiro daquele time, Amadeo Carrizo. Até hoje é a pior derrota da Argentina em mundiais.

Coreia do Norte 1 x 0 Itália – 1966

A então bicampeão mundial Itália encarava, na fase de grupos, uma seleção estreante. A Coreia do Norte vinha de um empate contra o Chile, por 1 a 1, e de uma derrota para a União Soviética, por 3 a 0. Os italianos haviam batido a seleção chilena por 2 a 0, tendo sido derrotado pelos soviéticos por 1 a 0. A Azzurra podia garantir sua classificação até com um empate, caso os chilenos não superassem os sul-americanos.

O técnico Edmondo Fabbri resolveu fazer sete mudanças em relação à equipe que perdera para a União Soviética, adotando uma formação mais ofensiva. No entanto, os planos europeus começaram a ir por água abaixo quando Park Doo-Ik bateu cruzado contra o gol de Albertosi, marcando um tento milagroso aos 42 do primeiro tempo. O time europeu não conseguiu o empate e a Coreia do Norte, graças à vitória soviética contra o Chile, passou para as quartas.

A seleção italiana retornou para o seu país, sendo recebida por uma chuva de tomates e frutas podres no aeroporto de Roma. A derrota também fez com que a federação local proibisse a contratação de estrangeiros, mesmo descendentes de italianos, pelos clubes nacionais. Uma zebra traumatizante…

Holanda 2 x 3 Escócia – 1978

A Holanda chegava à Copa de 1978 ainda sob o impacto de ter surpreendido o mundo com o Carrossel do Mundial da Alemanha, que sucumbiu somente na final diante dos donos da casa. A base era similar à da competição passada, mas sem Cruyff. Natural que a seleção fosse encarada como uma das favoritas.

Na estreia, os holandeses bateram o Irã por 3 a 0, mas suaram para empatar com o Peru, em zero a zero. A Laranja Mecânica chegou à última partida da primeira fase para jogar contra a Escócia. Rensenbrink anotou e pênalti o primeiro tento da peleja, o milésimo em Copas. Mas os escoceses viraram e fizeram 3 a 1, estando a apenas um gol da fase seguinte. Mas a Holanda diminuiu aos 26 do segundo tempo e atenuando o vexame da derrota. Com o revés de 3 a 2, terminou em segundo lugar no grupo, atrás do Peru.

Argélia 2 x 1 Alemanha Ocidental – 1982

Na Copa de 1982, a seleção argelina faria história ao se tornar o primeiro time africando a superar um europeu em mundiais. O atacante Madjer anotou o primeiro da Argélia aos nove minutos do segundo tempo, após jogada de Belloumi. A seleção germânica chegou ao empate aos 22, com Rummenigge fazendo de carrinho. Porém, no minuto seguinte, Belloumi apareceu mais uma vez no campo adversário para fazer após cruzamento de Assad.

A Argélia ainda venceria outro jogo, 3 a 2 contra o Chile, sendo derrotada pela Áustria por 2 a 0. No entanto, não foi adiante na Copa por conta de uma partida vergonhosa protagonizada por austríacos e alemães. Já sabendo do resultado da peleja entre argelinos e chilenos, as equipes europeias entraram em campo cientes do que precisavam fazer para se classificar. Assim, Hrubesch marcou para a Alemanha e os dois times passaram a tocar a bola, esperando o tempo passar com um resultado que levava ambos à fase seguinte. Vergonha.

Camarões 1 x 0 Argentina – 1990

O campeão de 1986 estreava contra uma seleção que seria uma das surpresas do Mundial da Itália. Maradona e companhia não conseguiram desenvolver seu jogo contra Camarões, e foram derrotados por 1 a 0, gol de Oman Biyick aos 22 minutos, uma cabeçada que contou com um belo frango do goleiro Pumpido.

Essa partida, de certa forma, também selou o destino da seleção brasileira. Os hermanos fizeram um jogo altamente suspeito no final da primeira fase contra a Romênia, um empate em 1 a 1 que classificou os dois times (os argentinos na condição de um dos melhores terceiros colocados). Nas oitavas, o Brasil foi eliminado com o célebre gol de Caniggia.

Noruega 2 x 1 Brasil – 1998

A seleção brasileira chegou ao seu terceiro jogo da primeira fase já classificado, mas havia um gostinho de revanche contra a seleção norueguesa. Um ano antes, os europeus haviam batido o Brasil por 4 a 2 e o técnico da equipe desancou o time de Zagallo, dizendo que os brasileiros não possuíam padrão tático, entre outras declarações pouco elogiosas.

No entanto, a vingança não veio. Bebeto abriu o placar para o Brasil após cruzamento de Denílson, aos 33 do segundo tempo. Contudo, o algoz da seleção de um ano antes, o atacante Tore Andre Flo, deu mais uma vez o ar de sua graça. Aos 38, deu um drible em Júnior Baiano passando a bola por baixo das suas pernas, finalizando à esquerda de Taffarel. Aos 44, sofreu pênalti do mesmo Júnior Baiano e Rekdal converteu para os noruegueses, garantindo a virada e a classificação.

Senegal 1 x 0 França – 2002

A seleção francesa ia para o Mundial da Coreia/Japão sob um olhar de desconfiança de seu torcedor, em especial pela contusão do seu astro Zinedine Zidane. Mesmo assim, tratava-se do campeão do mundo de 1998, e a estreia era contra uma equipe que debutava em Copas. Senegal, ex-colônia francesa, acreditava que poderia surpreender. E assim o fez.

O meia Diop se aproveitou de uma desinteligência entre o arqueiro Barthez e Petit e marcou o único tento da partida, aos 29 minutos do primeiro tempo. A França, que só contaria com um Zidane combalido no terceiro jogo, contra a Dinamarca, não fez um gol sequer no Mundial e foi dona da pior campanha já realizada por um campeão na competição seguinte.

Por que não entrou?

Muitos consideram a final da Copa de 1950 uma zebra, mas o fato é que a seleção uruguaia era muito qualificada. O resultado não ser aquele pelo qual torcemos não significa que seja anormal…