Número cabalístico

Seis camisas 13 e um 14 que fizeram história em Copa do Mundo

Muito antes da superstição de Zagallo, jogadores importantes desfilaram nos gramados dos mundiais com o número às costas

Nationaal Archief Fotocollectie Anefo/Wikimedia Commons

Gerd Müller levanta a taça de campeão do mundo de 1974, ao lado de Wolfgang Overath

O número estampado no uniforme de cada jogador serve para identificar o atleta em campo. No entanto, a finalidade pragmática é em muito ultrapassada pela mística alcançada por uma camisa 10, de Pelé ou de Maradona, pela 7 de Garrincha ou de Jairzinho, pela 5 de Beckenbauer e Falcão. Além destes, um número de camisa pouco provável ficou na história das Copas: o 13.

Na distribuição dos uniformes feita atualmente, a 13 costuma ser reservada a um lateral ou defensor reserva. Pelo Brasil em 2014, Dante carregará o número. Mas muito antes de Mário Jorge Lobo Zagallo azucrinar a torcida e a crônica esportiva com a fixação por uma numerologia de botequim (“‘numerologia de’ tem 13 letras”, diria o Velho Lobo), brilharam alguns atletas com o número primo às costas.

O primeiro digno de nota foi o arqueiro da campanha brasileira de 1958. Gylmar dos Santos Neves não vestiu oficialmente a camisa 13 naquela Copa, seu número era 3. Mas nos jogos da competição costumava usar por baixo do uniforme uma camisa que tinha o número de Zagallo estampado. Na partida final, um problema: ninguém no vestiário achava a camisa do arqueiro. Como os jogadores não queriam dar sopa pro azar e quebrar a tradição, a solução foi colocar, sobre o algarismo 3 de seu uniforme, um esparadrapo esticado para simular a casa da dezena. E lá ficou o 13.

Menos acaso se deu com Eusébio, o moçambicano que brilhou com a camisa portuguesa em 1966. A terceira colocação, com direito a eliminação do Brasil, então campeão do mundo, foi alcançada com nove gols do Pantera Negra.

O segundo maior artilheiro da história das Copas, Gerd Müller, marcou 14 gols em 10 jogos, levando a 13 nas costas. Foram tantos gols que o recorde só foi superado em 2006 pelo brasileiro Ronaldo, com tentos distribuídos em três copas.

Avança a lista dos 13 com o atacante argentino Mario Kempes. É bem verdade que o número estava nas costas do craque apenas na Copa de 1974, quando os hermanos foram mal. Em 1978, ocasião do primeiro título da albiceleste, o atacante, astro daquela equipe, carregava a 10.

O lateral-direito Josimar, do Botafogo, foi bancado pelo técnico Telê Santana em 1986 no lugar de Leandro, envolvido em um episódio de indisciplina. Fez dois gols da intermediária naquela edição, um contra a Irlanda do Norte e outro ante a Polônia. Duas pinturas. Nem precisava fazer mais nada para escrever um rodapé na história.

Bem mais recente, mas com menos destaque, Sebástian El Loco Abreu, do Uruguai, vestiu a 13 da Celeste em 2010. Na melhor campanha dos conterrâneos de Pepe Mujica desde 1970, o atacante então do Botafogo era reserva, mas bateu um pênalti com cavadinha na decisão das quartas, contra Gana, um gesto que justificou seu apelido.

Para fechar a lista, vem um 14 que, pela distinção, merece a exceção. Johann Cruyff conduziu o Carrossel Holandês em 1974 até a final. O futebol total da Laranja Mecânica não seria o mesmo sem ele.