eleições 2014

O mito da mudança nas pesquisas eleitorais. Oposição tem só 25% do ‘mudancismo’

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Nova pesquisa do Ibope sobre a corrida presidencial em campo deve ser publicada nos próximos dias

Os candidatos de oposição, em dificuldades para subir nas pesquisas de intenções de votos, buscam oxigênio no que chamam “sentimento de mudança”. E institutos de pesquisas de opinião passaram a dirigir perguntas para dar subsídios a este argumento do interesse dos oposicionistas. Porém, as perguntas dirigidas mais fogem do que buscam identificar qual é o real sentimento de mudança.

Se for para levar a sério os números apurados na última pesquisa eleitoral do Ibope, o tamanho do sentimento de mudança em direção à oposição fica em apenas 25%.

O Ibope fez a seguinte combinação de perguntas:

Pergunta 15) Pensando no próximo presidente, o (a) sr (a) gostaria que ele:

  • .. Mudasse totalmente o governo do país (30%)
    .. Mantivesse só alguns programas, mas mudasse muita coisa (38%)
    .. Fizesse poucas mudanças e desse continuidade para muita coisa (20%)
    .. Desse total continuidade ao governo atual (8%)
    .. Não sabe/ Não respondeu (3%)

 

(Somente para quem deseja mudança na próxima eleição):

Pergunta 17) Ainda falando sobre mudanças no governo, o (a) sr (a) deseja mudanças no governo, mas com Dilma na presidência ou mudanças no governo com outro presidente no lugar de Dilma?

  • .. Mudanças no governo, mas com Dilma na Presidência (25%)
  • .. Mudanças no governo, com outro presidente no lugar de Dilma (64%)
    .. Não sabe/ Não respondeu (11%)

 

O número de 64% que “querem mudanças no governo, com outro presidente no lugar de Dilma”, impressiona, e é usado por oposicionistas, sejam candidatos para produzir alento, sejam jornalistas para produzir manchetes, mas esconde um truque, porque não são 64% do total dos pesquisados (amostragem do total do eleitorado).

A pergunta 15 foi aplicada a todos os 2.002 pesquisados. A pergunta 17 foi aplicada somente aos 1.369 pesquisados que responderam as duas primeiras opções da 15. Logo, quem respondeu querer outro presidente no lugar de Dilma corresponde a 44% do eleitorado, praticamente o mesmo tanto de votos que o candidato José Serra (PSDB-SP) teve no segundo turno em 2010.

Desses 44% que dizem não querer Dilma, 19% não querem ninguém da oposição, pois declaram que irão votar em branco ou nulo. Então sobram apenas 25% do voto de mudança para a oposição. Significa que a oposição, por ora, encolheu em relação a 2010.

Por outro lado, somando-se os 25% dos 1.369 pesquisados que querem muita mudança e dizem querer a continuidade de Dilma, com os que querem “total continuidade ao governo atual” ou pequenas mudanças, chega-se a 44% do eleitorado.

A leitura dos números da pesquisa sem truques dá cerca de 44% pendendo para a continuidade do governo Dilma, mesmo querendo muita ou pouca mudança, contra 25% pendendo para a oposição. O resto, tirando os indecisos, é o eleitorado seduzido pelo sentimento anti-política inclinado a anular o voto.

Além disso, na mesma pesquisa Ibope de abril, a primeira pergunta foi:

1) Como o (a) sr (a) diria que se sente com relação à vida que vem levando hoje? O(A) sr (a) está:

  • .. Muito satisfeito (9%)
  • .. Satisfeito (70%)
  • .. Insatisfeito (19%)
  • .. Muito insatisfeito (2%)
  • .. Não sabe/ Não respondeu (1%)

 

Com 79% do eleitorado satisfeito ou muito satisfeito com a vida que vem levando, torna-se mais fácil para o governo do que para a oposição capturar os votos que ainda estão indecisos ou descontentes. O eleitor que vota pragmaticamente, com a mão no bolso, tende a votar pensando em preservar seu bem-estar.

Tudo isso desmistifica o suposto “sentimento de mudança” representar novos ventos para a oposição.

Se perguntar a qualquer mãe ou pai se quer mudança no desempenho de seu filho na escola, a menos que sejam pais dos primeiros alunos da classe, todos responderão sim. Mas nenhuma mãe ou pai quer mudar de filho.

Todo mundo quer mudança para reformar a casa, para trocar o aluguel pela moradia própria, para trocar um carro usado por um novo, para perder uns quilos a mais, para deixar o sedentarismo, para subir na carreira profissional, até para ganhar na Mega-Sena, mas poucos estão dispostos a decisões de mudanças radicais, como abandonar o emprego para aventurar-se em algo incerto, ou trocar o que conquistaram na vida para recomeçar tudo de novo.

Até nos casamentos, todo mundo quer alguma mudança para melhor, seja no relacionamento, seja na prosperidade familiar, mas a maioria não quer se separar, pelo menos nos casamentos harmônicos. Mas se uma pesquisa que garanta o anonimato, fizer pergunta gaiata perguntando hipoteticamente à mulher se trocaria o maridão por um galã da TV, muitas responderiam que sim, sem qualquer compromisso com a realidade e sem qualquer intenção real de separar-se. Daí seria absurdo tal pesquisa vir com a manchete: “Maioria de casais estáveis quer trocar de cônjuge”.

O Ibope está com nova pesquisa sobre a corrida presidencial em campo, que deve ser publicada nos próximos dias. As mesmas perguntas foram feitas. Vamos ver quais serão as manchetes “mudancistas”.