Rio+20 deve ter saldo positivo, mas divide opiniões sobre importância para o futuro

Rio de Janeiro – A dois meses do início, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) desperta opiniões divergentes sobre sua importância como definidora de políticas que levem o […]

Rio de Janeiro – A dois meses do início, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) desperta opiniões divergentes sobre sua importância como definidora de políticas que levem o planeta na direção do bem-estar social aliado à preservação ambiental.

Entre os que enxergam pontos positivos, o embaixador aposentado Flávio Perri, que coordenou a Rio 92 – a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – disse que uma das principais diferenças entre o encontro daquele ano e o que será promovido em junho próximo, é que àquela época não havia uma mobilização popular como existe atualmente.

“A característica da Rio+20 é que não são apenas os governos, os presidentes e chefes de Estado que vão participar e assinar um documento principal. É toda a opinião pública”, disse. Ele destacou que, pela primeira vez, o evento será transmitido em tempo real pela internet para todo o mundo. “Milhões de pessoas vão ver o que se passa no Rio. Essa distinção é muito importante porque dá uma característica participativa à Rio+20.”

Por outro lado, Liszt Vieira, um dos organizadores do Fórum Global na Rio 92 e atual presidente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, acha que a Rio+20 terá caráter pouco resolutivo, num momento em que era de se esperar mais objetividade. “Vai ser um balanço dos últimos 20 anos, com algumas recomendações”, disse Vieira, ao acrescentar que não haverá decisões que obriguem os países a executá-las.

Ele lembrou que a Rio 92, apesar das dificuldades enfrentadas, resultou em convenções que foram aprovadas pelos governos. Entre elas, as que tratam de clima e da biodiversidade, além de um plano de ação conhecido como Agenda 21. Para Vieira, no caso da Rio+20, ainda há uma grande indecisão. “Ninguém sabe direito o que vai sair”.

Para o embaixador Perri, no entanto, a Rio+20 outra diferença marcante em relação à primeira é que em 1992 não havia o conceito de desenvolvimento sustentável como existe hoje. Ele destacou que a conferência de junho já parte desse conceito, que é bem aceito e reconhecido pela opinião pública e objeto de interesse de governos, empresas, indivíduos e grupos sociais.

Perri deixou claro, porém, que o conceito de desenvolvimento sustentável necessita do planeta e de tudo que ele possa fornecer para ser transformado em bens. “O desenvolvimento depende do planeta. E para que ele continue verdadeiro e contínuo, é preciso que haja a sustentabilidade dos insumos que oferece”.

Por sua vez, a ideia não seduz Liszt Vieira, que lembra a aprovação, na Rio 92, da primeira Comissão de Desenvolvimento Sustentável, “que acabou sendo esvaziada ao longo do tempo”. Ele reconhece que o debate sobre o tema foi aprofundado a partir daquele encontro – em especial nas conferências anuais do clima e da biodiversidade promovidas pela ONU –, mas que mesmo nestas ocasiões faltaram decisões firmes dos governos. “Se nestes 20 anos não foi possível alcançar acordos nessas conferências das partes, dificilmente vai ser alcançado um acordo nesta reunião [Rio+20], que é mais abrangente.”

Perri disse esperar que a nova conferência indique caminhos para uma revisão dos métodos de produção e dos critérios de consumo, novas maneiras de articular as atividades dentro da sociedade, partindo dos governos e enviando mensagens à ação social. “Por aí, vamos chegar talvez a um documento que poderá ter impacto e que irá encerrar a conferência”.

Apesar de não ter grandes esperanças em torno da Rio+20, Vieira considerou que o balanço que será feito no encontro deverá ser um ponto positivo. “As recomendações também, de certa maneira, serão bem-vindas.”

Com reportagens de Alana Gandra, da Agência Brasil