Tragédia

Ciclone extratropical mata 5 no Rio Grande do Sul; mudanças climáticas tornam eventos mais frequentes

Mais de 50 cidades registraram fortes rajadas de vento e aumento do nível dos rios. Até a noite desta segunda (4), ao menos 353 pessoas estão desalojadas. Este é o terceiro ciclo extratropical que atinge o estado em três meses. Presidente Lula anuncia ajuda

Exército/Twitter/Reprodução
Exército/Twitter/Reprodução
De acordo com o subchefe da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, mais de 1,6 mil pessoas foram prejudicadas diretamente, com casas e outros bens destruídos pela tempestade

São Paulo – Um ciclone extratropical que se formou na noite desta segunda-feira (4) vem causando estragos no Rio Grande do Sul (RS). As tempestades atingiram ao menos 54 cidades, com rajadas de vento que chegam em torno de 100 quilômetros por hora no alto das serras, aumento do nível dos rios, queda de granizo e alagamentos. A Defesa Civil confirmou na manhã desta terça (5) cinco mortes em quatro municípios gaúchos em consequência do grande volume de chuvas.

Em Mato Castelhano, um homem morreu após a caminhonete em que ele estavav ser levada pela correnteza. Outra vítima fatal, em Passo Fundo, sofreu uma descarga elétrica. Em Ibiraiaras, um casal morreu ao ter o carro levado por uma correnteza enquanto atravessava uma ponte no município. A quinta morte foi confirmada na cidade de Estrela, onde um homem morreu eletrocutado. Até a noite de ontem, outras 353 pessoas estavam desalojadas, de acordo com a Defesa Civil.

A maioria das pessoas que tiveram que deixar suas casa em função do ciclone no RS são de Passo Fundo (131 casos), Nova Bassano (90) e Casca (75). Também foram registrados 40 casos no município de São Jorge, oito em André da Rocha, quatro em Ibiraiaras e Protásio Alves e uma em Cachoeira do Sul. No total, foram cerca de 197 residências afetas. As cidades mais atingidas estão nas regiões Norte, Serra e Vale do Taquari, o Rio Grande do Sul.

Morte em Santa Catarina

A Defesa Civil emitiu alertas de temporais, enxurradas e inundações gradativas e recomendou cuidados constantes. “As mortes que tivemos não são diretamente decorrentes da chuva, mas da falta de cuidados. É importante a atuação dos municípios, que devem estar com seus planos de contingência atualizados e informados para a população”, afirmou o subchefe de Proteção e Defesa Civil, coronel Marcus Vinicius Gonçalves Oliveira. O subchefe também apontou mais de 1,6 mil pessoas prejudicadas diretamente, com casas e outros bens destruídos.

Embora o ciclone tenha afetado mais o RS, fez vítimas também em Santa Catarina. Um homem morreu na cidade de Jupiá, no oeste do estado. Segundo o Corpo de Bombeiros, ele foi atingido por uma árvore durante o temporal que registrou fortes ventos. Outras três pessoas ficaram feridas em Balneário Camboriú e Itajaí, no Litoral Norte catarinense.

O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer-RS) apontou que pelo menos 20 trechos de 13 estradas do estado estão com algum tipo de bloqueio.

Efeito do aquecimento global

O fenômeno extratropical que atingiu a região Sul se formou por conta de um sistema de baixa pressão, que provocou chuvas intensas e se deslocou em direção ao oceano. Apenas a cidade gaúcha de Passo Fundo acumulou 291,6 mililitros de chuva em 72 horas. Eventos climáticos dessa natureza têm ocorrido com maior frequência no estado. Em junho passado, um ciclone extratropical na costa do Litoral Norte deixou 16 mortos. Na sequência, em julho, um segundo ciclone também matou mais cinco pessoas.

A avaliação de especialistas é que as mudanças climáticas devido ao aquecimento global têm tornando esses eventos extremos cada mais mais frequentes. A meteorologista do MetSul Meteorologia, Estael Sias, alerta ainda que elementos como El Niño, que aumentam a umidade, também acabam potencializando ainda mais a força das chuvas. O instituto já prevê um terceiro evento de chuva volumosa no Rio Grande do Sul na próxima semana, entre os dias 12 e 13.

Em sua live semanal, na manhã desta terça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmando a ida do chefe da Defesa Civil ao Rio Grande do Sul. “E mais uma vez (quero) dizer ao povo gaúcho que estamos prontos para ajudar naquilo que for necessário”.

Governo federal anuncia apoio

O governo federal anunciou que vai prestar suporte emergencial aos atingidos pelo ciclone no RS, garantindo acesso à água potável, alojamento e alimentação. “Vamos agir com rapidez. O Exército já está mobilizado para ajudar no salvamento das pessoas, para levar toda a estrutura necessária a essas pessoas que estão ilhadas, fora de suas casa. Toda a nossa solidariedade mais uma vez. Nós não vamos ficar parados, com a orientação do presidente Lula nós vamos agir e com rapidez”, escreveu em seu Twitter o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto. Natural do estado, Pretto chegou a concorrer ao cargo de governador no ano passado.

Em fevereiro, o governo federal também fez um aporte ao estado de R$ 430 milhões por conta de outro evento climático extremo. Na ocasião, cerca de 317 cidades decretaram estado de emergência devido à falta de chuvas. A estiagem prejudicou regiões as central e noroeste gaúchas e, pelo terceiro ano, a produção dos agricultores locais.

“Quem sofre os efeitos mais drásticos desses fenômenos são os mais pobres. Combater as mudanças climáticas é lutar pela vida!”, destacou o Psol em nota, nesta terça, sobre a nova tragédia no Rio Grande do Sul.

A instabilidade na região também alterou o trajeto do Grito dos Excluídos que ocorre nesta quinta (7), feriado da Independência. Com a mudança, a marcha sairá do Salão Paroquial da igreja Santo Inácio, próximo à Estação Rio dos Sinos, na cidade de São Leopoldo.

Redação: Clara Assunção

(*) Com informações da BBC News Brasil e do Brasil de Fato


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