Raonizar o Brasil

Cacique Raoni será homenageado em 50 cidades brasileiras pelo Dia Mundial do Meio Ambiente

Municípios serão palco da homenagem a um dos principais líderes indígenas do país, que desde jovem luta em defesa dos direitos dos povos originários e pela preservação da Amazônia

Waldemir Barreto/Agência Senado
Waldemir Barreto/Agência Senado
Cacique é homenageado nesta semana que marca os 50 anos do Dia Mundial do Meio Ambiente

São Paulo – Uma das principais lideranças indígenas do país, o cacique Raoni Metuktire, será homenageado nesta semana que marca os 50 anos do Dia Mundial do Meio Ambiente. Mais de 50 cidades brasileiras, incluindo 24 capitais, receberão lambes de seis metros quadrados com a imagem da liderança, feitos pelos artivistas Raul Zito e Matsi, neto de Raoni. A homenagem incluirá também projeções do cacique em oito localidades das cidades de São Paulo, Recife, Tefé (AM) e Belo Horizonte. 

Além disso, o povo manauara também vai poder conferir um mural criado pelo grafiteiro Raiz Campos, no centro da cidade. Integrante do Lab Experimental, Jonaya de Castro, coordenadora do projeto Megafone – uma das 20 entidades responsáveis pela ação –, comenta que a ideia não é apenas homenagear o líder indígena, como também levar sua imagem e história para quem ainda não o conhece. 

“Temos uma expectativa grande de que as pessoas que passem pelos lambes nas ruas ou reconheçam o cacique Raoni, ou descubram o cacique Raoni. Eu, particularmente, fiquei bem assustada uma vez que estava falando dele numa roda de conversas com amigos e vários não o conheciam. Então, a ideia é que todo mundo saiba quem é o cacique Raoni. Que a gente consiga falar dele, da luta indígena, da proteção desses territórios. E que o entendimento dessa importância seja compartilhado e possamos votar, neste ano de eleição, em um legislativo que através de seus projetos de leis e instituições consigam proteger esses territórios. Queremos participar disso trazendo Raoni para a pauta da cidade”, explica Jonaya.

A trajetória de Raoni

Não se sabe ao certo quando o cacique Raoni nasceu. Mas estima-se que tenha sido na década de 1930, num vilarejo chamado Kapôt, em Mato Grosso. Hoje, ele reside na aldeia Metuktire, localizada na Terra Índigena Capoto-Janira. Em 1954, aos 24 anos, Raoni teve seu primeiro contato com o homem branco, quando foi introduzido ao português com os irmãos Villas-Boas. A partir daí, tomou conhecimento do sistema exploratório que poderia destruir tanto o meio ambiente como também o seu povo. E deu início à luta pela preservação das florestas e pelos direitos dos povos indígenas. 

Sua luta chamou atenção do diretor belga Jean-Pierre Dutilleux que, junto com o cineasta brasileiro Luiz Carlos Saldanha, produziu um documentário sobre Raoni, em 1978, título indicado ao Oscar – a maior premiação do cinema. Em 1984, esteve à frente da negociação para demarcação de terras indígenas com o então ministro do Interior, Mario Andreazza. 

Raoni teve protagonismo no período de construção da Constituição Federal, promulgada em 1988, para garantir os direitos dos povos originários. Já nos anos 2000, a liderança lutou ativamente contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Em 2011, ele recebeu o título de Cidadão Honorário de Paris. Oito anos depois, foi indicado ao prêmio Nobel da Paz por um grupo de ambientalistas e antropólogos. Recentemente, em 2020, recebeu o prêmio Darcy Ribeiro e, no ano passado, o título de membro honorário da União Internacional para Conservação da Natureza.

Raonizar as cidades

“O cacique Raoni é uma das principais lideranças indígenas do Brasil e é por isso que a gente resolveu homenageá-lo agora nos 50 anos do Dia Internacional do Meio Ambiente para que sua imagem ocupe muitas ruas das cidades do Brasil. Serão mais de 50 cidades participando desse projeto que é ‘raonizar’ as cidades para que a gente valorize sua luta”, destaca a coordenadora do projeto Megafone. “Nós, que trabalhamos nessa área de produção de imaginário, dentro da arte e da cultura, queremos valorizar essa figura tão importante historicamente para a proteção dos territórios indígenas, das florestas e da vida do Brasil e da Terra”.

A ação em homenagem ao cacique Raoni terá início nesta quinta-feira (2). E segue até domingo (5), quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente. As instalações das artes já terão início nesta quarta-feira (1º). O Mural em Manaus também já está finalizado e pode ser conferido na Rua 10 de Julho, no centro da capital. 

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