Sob risco

Resistência ao avanço da extrema-direita contrária à preservação ambiental mobiliza COP25

Participantes já entregaram prêmio irônico ao Brasil, o Fóssil do Dia, e fizeram nesta quarta (4) ato de solidariedade ao Chile

Antonio Cruz/EBC
Antonio Cruz/EBC
"Para a comunidade africana e latino-americana é muito clara a conexão do avanço da ultradireita e de estratégias pouco democráticas", destaca participante da COP 25

São Paulo – Centrais sindicais promoveram, nesta quarta-feira (4), um ato de solidariedade ao povo chileno na embaixada do país em Madri, na Espanha. Com participação da CUT e de membros da Frente Ampla Democrática Socioambiental (Fads), os manifestantes, que participam da Cúpula do Clima em Madri, a COP 25, mostraram seu apoio aos protestos da população contra a política neoliberal e o governo de Sebastian Piñera.

O Chile era o país que sediaria o evento da Organização das Nações Unidas (ONU), que teve início nesta segunda-feira (2) e segue até o dia 13, mas, por conta da repressão das forças de segurança, usadas pelo governo para responder às manifestações da população, precisou ser transferida para Madri.

De acordo com a integrante da Fads Agnes Franco, para os participantes e a comunidade internacional está cada vez mais evidente uma relação entre a ameaça à democracia e a degradação de biomas e recursos naturais. Agnes, que também fez parte do ato de solidariedade ao Chile, como afirma, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual. Segundo ela, “para a comunidade africana e latino-americana é muito clara a conexão do avanço da ultradireita e de estratégias pouco democráticas”.

Não à toa, destaca, o Brasil foi “homenageado” com o Fóssil do Dia, prêmio irônico concedido por uma coalizão de mais de 1.200 ONGs de diversos países. “Nos deram esse troféu, na verdade mais direcionado ao ministro (do Meio Ambiente) Ricardo Salles, por conta de todas as negações de mudanças climáticas e dos incêndios que vêm ocorrendo no Brasil”, ressalta. Segundo Agnes, diante da comunidade internacional “o governo brasileiro está bastante fragilizado”, tanto pelo aumento do número de queimadas na Amazônia como pelo avanço do desmatamento e o afrouxamento da fiscalização, entre outros ataques aos povos indígenas e a mais recente tentativa de Bolsonaro de culpar as ONGs pela degradação da preservação de biomas no país.

“Pegou mal, especialmente porque essas ONGs, que atuam no Brasil e são internacionais, são respeitadas no mundo inteiro e pelos principais agentes internacionais de construção da política ambiental”, afirma Agnes. Tudo isso reduz a probabilidade de o país conseguir financiamento estrangeiro para a preservação ambiental, como quer o ministro do Meio Ambiente, analisa a integrante da Fads, que vê maiores chances de que esse tipo de investimento ocorra por meio de parcerias internacionais com prefeituras e estados brasileiros, sem a intervenção do governo federal.

Nesta quarta-feira (4), o papa Francisco enviou aos líderes globais que participam da COP 25, um documento, semelhante à encíclica Laudato si – sobre cuidado da casa comum, encaminhado no Acordo de Paris, em 2015, mas desta vez desafiando a coragem dos políticos de assumirem os compromissos firmados para a redução da emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e o aquecimento da terra, e também da pobreza. Para o pontífice, “as palavras ainda estão muito longe das ações concretas”.

Ouça a entrevista na íntegra