crise da água

Braço da Billings registra perda de volume com aumento de captação

Após aumento da captação de água do sistema Rio Grande para garantir abastecimento em Santo André, o volume do manancial caiu de 90% para 86% em 11 dias

sabesp

Outros sistemas de abastecimento no estado de São Paulo já dão sinais de rumar ao esgotamento

São Paulo – O volume de água do Sistema Rio Grande – braço da represa Billings que abastece três cidades do ABC paulista – passou de 92,6% para 86,3% no último mês. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou, no último dia 16, o aumento de captação do manancial para abastecer cerca de 150 mil moradores de Santo André.

Entre os dias 17  e 28 deste mês a perda foi mais drástica: quatro pontos percentuais – dos 90% para 86%. Os dados foram colhidos no site da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). A previsão da companhia é ampliar em mais meio metro cúbico por segundo a captação até setembro.

Especialistas em recursos hídricos e ambientalistas apontam que o Rio Grande está caminhando para uma seca similar à que atinge os principais reservatórios da Grande São Paulo, Cantareira e Alto Tietê.

“O estado saturou grandes reservatórios e sobrecarrega os sistemas menores, como Rio Grande e Rio Claro”, disse o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto, especialista em recursos hídricos e ex-diretor de planejamento do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica).

De acordo com o governo do estado, esta segunda-feira (28) o Cantareira estava com 15,8% da capacidade, que corresponde ao chamado ‘volume morto’ – que órgãos oficiais preferem chamar de ‘reserva técnica’. Já o Alto Tietê tinha 21,3% de sua capacidade.

“O governador está empurrando o problema da falta d’água até a eleição para não prejudicar sua imagem com a população. E por isso evita falar em racionamentos, mesmo que já aconteçam em partes da capital”, opinou Neto.

Para o engenheiro, o que a Grande São Paulo e o ABCD vivem é apenas a ponta de um iceberg. “A crise não é agora. Será em janeiro do próximo ano, quando não haverá água para abastecer todas as cidades”. Além disso, Neto acredita que o próximo período de chuvas não vai reabastecer as bacias, como acredita o governador. “As chuvas que começam em outubro vão encher apenas os volumes mortos e no próximo ano estaremos vivendo com menos da metade da água necessária”, afirma.

Na avaliação de Neto a seca só não afetará a Grande São Paulo “se acontecer um tsunami de chuvas”. A Sabesp foi procurada pela reportagem do ABCD Maior e não se pronunciou sobre a situação.

Poluição

O ambientalista Virgílio Farias indica que o braço Taquacetuba da represa Billings está poluído e se tornou um depósito de lixo e esgoto. “Falta chuva, falta água e o governo do estado não se preocupa em despoluir e cuidar da Billings”, disse o ambientalista. O local foi fotografado por Farias e não pertence à parte que serve ao abastecimento.

“Isso pode acontecer com toda a represa. O estado considera a Billings como um depósito de lixo e esgoto”, afirma. De acordo com o ambientalista, o estatuto que rege a gestão da represa garante que o manancial deve ser utilizado para fornecimento de água. “Mas como isso pode acontecer se 80% da represa está contaminado?”, questiona.