Estudantes e professores decidem manter greve na PUC de São Paulo
Movimento contra nomeação de reitora que perdeu eleição continua em nove faculdades da instituição
Publicado 22/11/2012 - 14h58
São Paulo – Cerca de mil pessoas se reuniram ontem no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), para debater a greve na PUC-SP. Estudantes e professores decidiram mantê-la em nove faculdades, entre as quais Direito, Economia, Jornalismo e Relações Institucionais, todas localizadas no campus de Perdizes, zona oeste da capital paulista.
Os campi de Barueri, na Grande São Paulo, e em Sorocaba, no interior do estado, terão assembleias na tarde de hoje (22). A Associação de Funcionários da PUC-SP havia declarado na semana passada que também ia aderir à greve, mas um e-mail interno enviado pela fundação deu a entender que, se os trabalhadores seguissem o movimento estudantil, atividades administrativas poderiam ser prejudicadas, entre elas o pagamento do 13º salário.
A greve começou na semana passada, após o cardeal dom Odilo Pedro Scherer, presidente da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da universidade ligada à Arquidiocese, nomear como reitora a professora de Letras Anna Cintra. Desde 1980, quando dom Paulo Evaristo Arns ocupava o cargo atual de Scherer, o regimento da PUC-SP prevê que o presidente da fundação escolha quem rege a universidade a partir de uma lista tríplice dos candidatos ao cargo mais votados por alunos, professores e funcionários da instituição.
O cardeal pode escolher qualquer um dos três, mas tradicionalmente elege o mais votado. Desta vez, contudo, ele não seguiu o princípio, já que a chapa de Anna foi a menos votada. Ela ficou atrás dos professores de Economia Francisco Serralvo (segundo colocado) e de Direito Dirceu de Mello, atual reitor.
Os grevistas querem que Dirceu seja nomeado, já que foi ele quem recebeu o maior número de votos, e afirmam que Anna não terá legitimidade da comunidade acadêmica.
O dono da casa
Na tarde de hoje, a página do facebook Democracia na PUC-SP divulgou que integrantes da chapa de Anna já visitam o espaço da reitoria, preparando-se para assumir no dia 30 deste mês. Na véspera, Dirceu deixa o cargo. Anna, assim com os demais candidatos, assinou um termo em agosto deste ano, pouco antes das eleições, em que se comprometia a não assumir o cargo, caso fosse nomeada sem a maioria dos votos.
Ela, entretanto, aceitou a nomeação. Ao jornal O Estado de S. Paulo, disse acreditar que a comunidade acadêmica acabará aceitando a decisão do cardeal. “A universidade vai acabar assumindo que a escolha é de quem pode escolher, que é o dono da casa, que é o chanceler, que tem o direito estatutário de escolha”, declarou ao jornal.
Desde essa entrevista, ela se recusa a falar com a imprensa. O movimento estudantil também afirma que não tem conseguido manter qualquer diálogo com ela. O cardeal tampouco quis dar declarações e se recusa a explicar sua escolha. A assessoria de imprensa da Fundasp disse que ele acredita que o ato de nomeação é suficientemente informativo.
A reportagem obteve cópia do e-mail que, segundo o movimento estudantil, teria sido divulgado aos funcionários. Diz o comunicado: “A paralisação desses segmentos, nesta época do ano, só prejudicará os alunos e toda a comunidade universitária, na iminência do vestibular, na realização das avaliações acadêmicas, na confecção das folhas de pagamento do décimo terceiro salário, na elaboração de planejamentos e calendários acadêmicos e administrativos”.
O estudante Roberto Oliveira, integrante da Comissão de Imprensa do movimento estudantil, afirmou que o e-mail desmotivou os funcionários, receosos de não receberem seus salários. “Os funcionários são o lado mais fraco”, comentou Oliveira.
O e-mail da Fundasp também afirmou que a greve não é legítima. “O movimento paradista (sic) não se reveste de legitimidade porque não se cumpriram as exigências legais para deflagrá-lo, e porque o motivo que o embasa fere os Estatutos da Universidade e da própria Fundação”, diz o texto.
Outros departamentos da universidade vão realizar assembleias para definir se aderem à grave. Hoje, de acordo com estudantes, não houve aulas na maioria dos cursos. Os professores e os estudantes, no entanto, realizaram aulas públicas sobre a história da universidade, democracia e movimento estudantil.